PEDRAS E CARÍCIAS

CADA MOMENTO VIVIDO
É UM IDO.
UM TEMPO PASSADO
QUE NÃO RETORNA
NEM TAMPOUCO
SE APOÇA DA NOSSA
EXISTÊNCIA.
SINTO SUAS PEDRAS
SE ENTRANHAREM EM MIM,
FEITO MEL,
ASSIM COMO DOCES.
DOSES DE AMOR ARDENTE.
ATIRAS PEDRAS
COMO QUEM
ATIRASSE CARÍCIAS,
COMO QUEM OFERECESSE
DELÍCIAS DE ALCÔVAS
INDA NEM ALCANÇADAS.
MOSTRA-ME TUAS GARRAS
E DELAS FAÇO DELEITES
DE PELES ESTILHAÇADAS,
CORPOS REVIRADOS DE LADOS,
DE DENTRO PRÁ FORA.
E QUANDO VAIS EMBORA?
DEITO-ME SANGRANDO
E CHORO A FALTA
DAS TUAS PEDRAS ATIRADEIRAS
QUE ME AFAGAM COM DOR
A PELE JÁ RESSEQUIDA
DE SAUDADES.

SAUDADE É DOR QUE NÃO CESSA

DISSERAM-ME UMA VEZ
QUE SAUDADE MATA A GENTE,
E MATA MESMO.
DEIXA DORES INCURÁVEIS,
SEQUELAS INSONDÁVEIS,
E VAZIOS,
SEM EXPLICAÇÕES.
EU, SINTO SAUDADES
DE ALGUÉM QUE SE FOI,
E QUANDO VOLTA
ME PEDE PRA FICAR
DEIXAR DE LADO OS AFETOS,
E APENAS NOS MANTER LIGADOS
PELO DESEJO DO HOJE.
TENHO MEDO DAS PALAVRAS
QUANDO EVOCAM AÇÕES,
E AÇÕES QUE EVOCAM
DORES.
A MINHA SAUDADE
ME CORTA FEITO
FACA CEGA,
DILACERA
E ME DEIXA A ERMO
DE TRISTEZAS INCONTÁVEIS.
QUANDO QUERO FUGIR DELA,
ME ESCONDO ENTRE
AS MINHAS PALAVRAS CALADAS,
E DEIXO QUE AS ESQUINAS
DAS MINHAS LÁGRIMAS
FAÇAM POR MIM
O TRABALHO DE SOFRER
POR VOCÊ.

DOR

OUÇO VOZES
QUE ME ACORDAM
DE UM SONO PROFUNDO.
ELICIAM EM MIM
O MEDO DE SOFRER
E ME FAZEM PARTIR,
AINDA QUE SEM
CHEGAR.
DIGO SIM AOS MEDOS
E PARTO LOGO
EM SEGUIDA.
NÃO ADIANTA ME SEGUIR,
NÃO SABES OS MEUS DESCAMINHOS,
E FUJO, POR ENTRE
ÁRVORES E ESQUECIMENTOS
DE VIDA E MORTE.
AS MINHAS DORES
SÃO VIGILANTES,
NÃO ME DEIXAM EM PAZ
NENHUM INSTANTE,
E CHORO LÁGRIMAS
INDECISAS,
CHEIAS E CARÊNCIA
E SOLUÇOS.
AONDE ESTÁ VOCÊ AGORA,
QUE NÃO ACABA COM
MINHA FALTA?
AONDE SE ESCONDEU VOCÊ
QUANDO EU MAIS
CHOREI A TUA AUSÊNCIA?
DIGA SE AINDA ÉS ARTISTA
DO MEU CORAÇÃO PALCO,
E SE AO ACASO VENS ME VER.
E SE NÃO MAIS PRINCIPIAS
EM MINHA VIDA
SAIA E DÊ-ME LOGO AS CHAVES
DA MINHA PORTA,
PRÁ QUE EU POSSA ME FECHAR
E CHORAR EM MINHAS SALAS VAZIAS.

QUERO AGORA O SILÊNCIO

QUERO AGORA O
SILÊNCIO
DAS BOCAS CANSADAS
SOFRÊGAS COMO
MÁRTIR.
QUERO O CORPO CANSADO
QUE ME ACOLHA
E ME FAÇA DORMIR.
QUERO O SILÊNCIO
DAS TUAS MÃOS MACIAS
QUE ME ACARICIAM E
ME DEIXAM A ALMA LEVE.
O SILÊNCIO DAS VOZES
JÁ ESQUECIDAS,
REPETIDAS EM MEU OUVIDO.
QUERO O SILÊNCIO DAS
NOITES EM QUE
FORTUITAMENTE ENTREI
PELA TUA JANELA,
E PARTI
LOGO AO ALVORECER.
QUERO O SILÊNCIO
DAS PALAVRAS JÁ SEM IMPORTÂNCIA
QUE CALADAS
DEIXAM SOMENTE
O CORPO FALAR.
QUERO SEU GEMIDO
SUADO, ESTAGNADO DE
TANTO PRAZER.
QUERO AGORA
SILENCIAR-ME E TE
FAZER FELIZ.

O AMOR É UMA MENTIRA

O AMOR É UMA MENTIRA,
UMA CENSURA À SER FELIZ.
O AMOR É FALTA DE CONDUTA,
É MISTURA DE AVENTURAS,
DORES E DESVENTURAS.
O AMOR É UMA CRIANÇA,
QUE FINGE E DISSIMULA,
ALEGRA-SE COM A DOR ALHEIA.
O AMOR É INSENSATEZ,
UM JOGO DE XADREZ
SEM VENCEDORES,
UM BILHETE POR BAIXO DA PORTA,
O AMOR É UMA RUA TORTA,
SEM PORTAS E JANELAS,
UM CORAÇÃO BALDIO.
O AMOR É ADOECIMENTO,
É A FALTA DE SENTIMENTO,
O AMOR RESSECA,
É RESSACA.
PRECISA-SE SEMPRE DE REMÉDIOS
QUE ACALMEM SUAS CONTROVERTIDAS
BARBÁRIES.
O AMOR É UMA FALSA
PROPAGANDA DE REFRIGERANTES
É A DIVINA COMÉDIA
DE DANTE,
ONDE SÓ O INFERNO NOS
PERTENCE.

CONSEQUÊNCIAS

SINTO MUITO!
FOI ISSO QUE ESCUTEI VOCÊ
DIZER, QUANDO ME DEIXAVA.
QUANDO PENSAVA EM MIM
COMO RESERVA DE SUA VIDA.
EU SÓ QUERO FICAR!
VOCÊ ME DISSE QUANDO
NÃO TINHA OUTRA OPÇÃO
EM PODER MANTER-SE LONGE,
E PREFERIU ME DEIXAR
NO ESCANTEIO DO SEU JOGO.
VOCÊ ME OBRIGOU A SER LIVRE!
ISSO... DEIXA EU ME LEMBRAR,
AH, VOCÊ DISSE NAQUELA NOITE
EM QUE PRÁ TENTAR MANTER-SE
SENSATO COM SUAS HIPOCRISIAS
VOCÊ CUSPIU EM MIM,
DIZENDO QUE EU FORA O CULPADO DO FIM.
E ESQUECENDO-SE DE QUE FOI
VOCÊ QUE MENTIU, TRAIU,
ECLODIU EM FINGIMENTOS COMIGO.
E O QUE QUERES?
UM SANTO? QUE PERDOA, QUE SUPORTA?
QUE PENA...
DE SANTO SÓ O NOME, OU NEM ISSO.
AS CONSEQUÊNCIAS DOS MEUS ATOS
EU PAGO, ARCO COM AS DORES E FERIDAS,
AS CONSEQUÊNCIAS DOS SEUS,
NÃO ME DIZEM MAIS RESPEITO.
E FECHO A PORTA DOS MEUS
SONHOS,
E TE TRANCO DO LADO DE
FORA DA MINHA VIDA.

DE QUE ADIANTA PALAVRAS?

SE VOCÊ SE ESQUIVA
FINGE NÃO OUVIR
OU OUVE E FINGE
NÃO ENTENDER.
NÃO SEI.
NÃO HÁ PAZ EM MIM,
UMA ESPERA ESGOTADA,
DEMASIADA CANSADA.
MINHAS PALAVRAS
NÃO SURTEM EFEITOS,
ESPERO SINAIS,
QUE NÃO CHEGAM,
CHORO RESPOSTAS
QUE NÃO SE PRENUNCIAM.
SEI O QUE PENSAS,
VONTADE ENORME DE FUGIR
ESQUECER O NOSSO
PASSADO.
REVIVER NOVOS MOMENTOS,
QUE ANTES VIVESTE
COMIGO.
A PURA COMODIDADE
DAQUELES QUE TEM MEDO
DE ENFRENTAR A VERDADE.
DÓI A ESPERA,
SOFRO COM O SILÊNCIO,
E NA TROCA DE MENSAGENS
INSTANTÂNEAS,
DECIDO NÃO MAIS ESPERAR
E CHORO.
QUANDO SUA RESPOSTA CHEGAR
PELO CORREIO DA SUA
VOZ,
NÃO ESTAREI MAIS
COM MEU BIP LIGADO.

Os olhos as vezes parecem perdidos, mas enxergam longe!!! Eu sei o que você pensa e o que quer...

ALEGRIAS

EXISTE EM MIM UMA
BAGUNÇA
CONSERVADA EM TONS
DE ALEGRIAS DE
CARNAVAIS.
HÁ EM MIM UMA SIMPLICIDADE
EMBARGADA NAS DORES
DE PELES QUE JÁ PERDI.
SOU UM TRISTÃO
QUE PERDEU ISOLDA
E NEM SUA FALTA SENTE.
SINTO EM MIM
SAUDADES VINDOURAS
MODERNOS INSTINTOS
PROVIDOS DO SEU CAUDALOSO
CARINHO.
E SIGO NA MINHA CAMINHADA
COMO NOMADE QUE SOU
EM BUSCA DAS SUAS
ALEGRIAS
QUE ME FAZEM VIVER.
POIS,
É POR VOCÊ QUE
VIVO,
E SE NÃO TE TENHO,
MORRO EM VIDA.

INÚTIL

PENSO QUE FORA
INÚTIL PERMANECER DE PÉ
TANTO TEMPO.
TANTO TEMPO TENTANDO
FORTALECER-ME
E APENAS CONSEGUIR
CAIR.
TANTOS MISTÉRIOS EM MIM
AINDA NEM LANÇADOS
EM CONJUNTURA ESTELAR,
E ME PONHO A LADRAR
FEITO CÃO SEM DONO.
A FALTA É UMA DELICADEZA
QUANTO A PRESENÇA
É OFENSIVA.
O PESO DAS IDEOLOGIAS
JÁ NÃO SUPORTAM A MINHA
CARÊNCIA DE ODORES.
E QUANDO FALO
MEU TÍMBRE
PARECE PESADO
PARA PALAVRAS
TÃO SINGELAS
E FOSCAS
AO MEU PALADAR.

Existem imagens que conseguem dizer mais que mil palavras...

Então essa imagem materializa o que eu gostaria de dizer nesse momento.

IMAGENS

O QUE UMA IMAGEM PODERIA
DIZER SOBRE AS MINHAS
ESSÊNCIAS?
TALVEZ NADA,
TALVEZ APENAS UM SINAL,
NADA DE TÃO EVIDENTE.
REALMENTE
UMA IMAGEM NÃO É NADA
AÇÕES NÃO SÃO NADA
PALAVRAS?
MENOS AINDA.
ESPERAM DE NÓS,
SEMPRE GRANDES ESPETÁCULOS
GRANDES MOVIMENTOS
DESUMANAS FORÇAS.
E EM TROCA?
RIMAS, MENTIRAS
E FLORZINHAS ROUBADAS
NO QUINTAL ALHEIO.
ESSA IMAGEM QUE VÊS,
OU TALVEZ NEM VEJA,
AFINAL IMAGEM NÃO É NADA
SIMPLESMENTE REFLETE
UMA CONDENSADA FORMA
DE DIZER NÃO EXISTO.
O QUE É DOR AGORA,
AMANHÃ NÃO SERÁ NADA,
SERÁ TUDO REDUZIDO,
ABDUSIDO POR ETs,
TUDO SERÁ FAMILIARIZADO
FEITO SAUDADES,
E CONTINUAREI DE CABEÇA BAIXA
PALAVRAS CONTIDAS,
AÇÕES POR ACONTECER.
UMA ÚNICA COISA
SE REPETIRÁ COTIDIANAMENTE:
O ECO DAQUILO QUE NÃO DISSE,
O VÃO DAQUILO QUE
NÃO FIZ,
A INÉRCIA DAQUILO NÃO
QUE VI.
E VOCÊ?
SENTIRÁ MINHA FALTA.
MARCADA EM CADA
CANTINHO DE VOCÊ.

ENTREATO

O QUE SEI
É QUE HÁ EM NÓS
UMA INTERRUPÇÃO,
UM VÃO QUALQUER
QUE NÃO NOS PERMITE
SOBREVIVER JUNTOS.
UM ESQUISITO TEATRO
EM QUE SOU O PRIMEIRO
E VOCÊ O SEGUNDO
ATO.
VIVENCIO AS SUAS ALEGRIAS
DA COXILHA,
NÃO POSSO ATUAR JUNTO,
OU POR FRAQUEZA SUA,
O POR INÉRCIA.
NÃO CONSEGUES ENXERGAR
EM MIM SOBRIEDADE,
POIS A MINHA VERSÃO HUMANA
É DESGARRADA,
DESABITADA DE MATÉRIAS
COMPLETAS.
E ASSIM VIVEMOS,
NUM ENTREATO ETERNO,
ENQUANTO UM ENTRA EM CENA
O OUTRO PROCURA A SAÍDA DE
EMERGÊNCIA,
COM MEDO DO QUE
PODE DEIXAR DE ACONTECER.

FOGO

TENHO EM MEU CORPO
UMA SEMENTE DE FOGO,
UM FIRMAMENTO DE
AQUECIDAS MÃOS TIRANAS.
TENHO EM MEU SER
UM DÉSPOTA À ESPREITA,
VIVE ELE À MINHA ESQUERDA.
ARDE EM MIM COMO FOGO,
UM SER QUE ME DESCONHECE
POR INTEIRO,
MAS QUE É MEU
E EU SEU VIVEIRO,
ESPAÇO DE ALEGRIAS
E TORMENTOS.
FACILMENTE ME COLOCO
EM GELEIRAS,
POLARIZADAS COM AS
MINHAS CARNES CÁLIDAS,
QUE ESPERAM O MEU
SEU REVERSO
VOLTAR NA FRIA
MADRUGADA.

PARTIDA

ME PERGUNTO SE DEVERIA
EU DIZER:
"AINDA BEM QUE VOCÊ VIVE COMIGO".
MAS SEI QUE NÃO É
O QUE SINTO,
NÃO É O QUE É
REALIDADE.
SERÁ QUE FOI AMOR?
OU SÓ ENGANO?
TANTAS PERGUNTAS
RESPOSTAS ESCASSAS.
VI VOCÊ PARTIR NUMA NAU,
COM MEDO DE MIM.
FIQUEI ESGOTADO DE
RANCOR E RAIVA.
ARRANHEI PAREDES,
QUEBREI VIDRAÇAS,
ATIREI EM PÁSSAROS,
MATEI O MEU PENSAR.
HOJE, JÁ PASSADA A
MÁGOA
PENSO SE SUA PARTIDA
DE ONTEM,
JÁ NÃO ESTÁ DEMORADA
EM REGRESSAR.

FELIZES PARA SEMPRE?

TODOS OS DIAS INDAGO
AS RAZÕES PELAS QUAIS
NOS FAZEM ACREDITAR
NESSA MENTIRA.
PENSO SE EM VERDADE
HÁ FELICIDADE
OU TRATA-SE APENAS
DA FRIA FALSIDADE
DAQUELES QUE DIZEM
AMAR,
DAQUELES QUE SÓ
SABEM DISSIMULAR.
SERIA BOM QUE HOUVESSE
UM MANUAL DE INSTRUÇÕES,
AO MENOS UMA SITUAÇÃO
MAIS SIMPLES.
QUERIA EU QUE A
FELICIDADE TIVESSE
UM VIDE BULA.
SEM SUCESSO TENTO MONTAR
ESSE QUEBRA-CABEÇAS,
QUE ME DEIXA TONTO,
ENLOUQUECIDO SEM
RESPOSTAS.
E DE COSTAS
VEJO VOCÊ PARTIR.

SEXOS

INDA LEMBRO O DIA
EM QUE SENTI O SEXO
A PRIMEIRA VEZ.
UMA FORMA ENGENDRADA
DE ALEGRIA, MEDO
SUOR E GRIS.
IMAGENS RETORCIDAS,
CORPOS AQUECIDOS
E FLUÍDOS,
DERRAMADOS,
ACLAMADOS
EMBEVECIDOS
DE MATURIDADE.
ESTAVA EU JÁ HOMEM,
JÁ TRANSFORMADO.
PURAMENTE ETÉREO AQUELE
MOMENTO,
UMA ENGRAÇADA E ALEGRE
LEMBRANÇA.
QUANDO JOVEM.
O SEXO ERA FONTE,
EXISTÊNCIA DE FORÇA,
PRAZER
INSINUAÇÕES,
CONQUISTA.
O FAZIA COM DESTREZA,
FIRMAMENTOS,
ELOGIOS
E MORDIDAS,
DORES E MENTIRAS,
FRAGMENTOS E SUPOSIÇÕES
VIAGENS E DENSOS ENCONTROS
DE CARNES E CORES,
ARMAS E FLORES,
E EU AMAVA SER GENTE.
HOJE
PASSADO NO TEMPO,
SINTO O MEDO DO VAZIO,
A INEXISTÊNCIA DOS DESDÉNS,
O MAQUINISMO DO MEU SER.
SEM SEXO,
SEM ATOS,
SEM NEXOS SE QUER.
E QUERO!
NÃO TENHO MAIS 20 ANOS,
NEM 50,
OS MEUS ANOS JÁ NÃO
SÃO CONTÁVEIS,
POIS PERDERAM-SE
JUNTO COM VOCÊ, NAQUELA VENTANIA
DE AGOSTO,
E FIQUEI SEM SEXO,
E SEM CONTENTAMENTO,
ME FECHO.
ESQUEÇO DO MUNDO
E O MUNDO SE LIVRA
DOS ESTORVOS QUE ME TORNEI.
AMANHÃ,
AINDA SEREI UM SER INEXISTENTE,
UMA SEMENTE,
MORTA.
E ME ATIRAREI DOS MONTES
DE ALEGRIAS ESCONDIDAS
QUE GUARDO,
AO ME LEMBRAR DE VOCÊ.

TEMPESTADE

REZO DIAS QUE A CHUVA
NÃO CESSE,
RECOMECE SEMPRE
AO AMANHECER.
SEM VONTADE DE SAIR
DE CASA,
ME ENCLAUSURO.
TRANCAFIO AS MINHAS EMOÇÕES
EM CALABOUÇOS INEXATOS.
VEJO NOS RAIOS E
RELÂMPAGOS
EM BÁLSAMO,
UMA FONTE SEGURA
DE DOR E DESESPERO.
AS GOTAS INSISTENTES
DE CHUVA DISFARÇAM A
LUMINOSIDADE PERENE
DAS LÁGRIMAS,
QUE COMO LANTERNAS
DENUNCIAM VIDA
EM MEUS OLHOS.
OLHO PELO JANELA
TRANSLÚCIDA DE MINHA
ALMA E NÃO ENXERGO
NADA ALÉM DE NÉVOA,
E NA RELVA DAS MINHAS
PALAVRAS,
ACABO PERDENDO O EIXO SEGURO
DA MINHA FUGA,
A TEMPESTADE.

FALTAS E SAUDADES

INEVITÁVEL É SER INCOMPLETO,
REPLETO DE SENSAÇÕES
MULTICOR.
ME SINTO MUTILADO,
FALTANDO UM PEDAÇO
CHORANDO A FALTA
DO QUE ME É AGORA
ESTRANHO.
DESISTINDO AOS POUCOS
DO QUE JÁ NÃO
É MEU,
DAQUILO QUE DEIXOU
DE SER HUMANO.
E CHORO SAUDADES,
UMA DOR QUE INVADE
O MEU PEITO MANCO,
FRÁGIL E DESATENTO.
SOFRER DE FALTAS
E SAUDADES
É DESALENTO,
DESCONFORTO.
COMPULSIVAMENTE CULTIVO
REMINISCÊNCIAS,
A ÚNICA FORMA DE
MUDAR AS APARÊNCIAS,
DE QUEM SOU
E ME PROJETAR
EM QUEM DEIXEI DE SER.

EM DIAS DE VERÃO

EM DIAS DE VERÃO
MOSTRA-SE ALEGRIAA
REMEMORA-SE FANTASIAS
VIVE-SE EM HARMONIA.
EM DIAS DE VERÃO
CHORA-SE SAUDADES
LEMBRA-SE DO PASSADO
E ARDE-SE SEM PECADOS.
EM DIAS DE VERÃO
REÚNE-SE FORÇAS E MAGIAS
BRINCA-SE AO SOM DAS MELODIAS
ANINHA-SE NOS BRAÇOS
DE SUA COMPANHIA.
EM DIAS DE VERÃO
SOFRE-SE DECEPÇÕES
CAIE-SE EM CONTRADIÇÃO
E PERDE-SE NA CONTRAMÃO.
O VERÃO É DÚBIO,
AMBIVALENTE.
TANTO DÁ QUANTO TIRA,
TANTO AGE QUANTO PRINCIPIA.
VERÃO É ESTAÇÃO,
MUDANÇA DE SENSAÇÃO.
EU, NO VERÃO ME PERCO
E ESPERO O INVERNO
ME TRAZER A VISÃO.

PHILO SU Nº2

PROCUREI TANTAS PALAVRAS,
EXPRESSÕES DESESPERADAS
QUE FIZESSEM FIGURAR
VOCÊ EM MEU CÉU.
INDAGUEI TANTOS
IDIOMAS,
TANTAS FRASES DESENCONTRADAS,
QUE DESSEM A MIM
UM LUGAR PRÁ SUA MORADA.
VIAJEI TANTOS DESERTOS,
LUGARES INCERTOS
A TE DESENHAR,
IMAGENS E CIDADES,
VONTADE DE TE GUARDAR.
INVADI TEUS TERRITÓRIOS
BUSQUEI PEDRAS
EM SEU JARDIM,
ESCONDI-ME NA CHUVA FRIA,
NÃO QUERENDO
TE SERVIR DE GUIA.
DORMI EM CALÇADAS ROTAS.
COMI COMIDAS INÇOSSAS.
DEGLUTI AMARGURAS TANTAS,
MINHA PROCURA FOI INGLÓRIA,
SEM PALAVRAS,
SEM IMAGENS,
NEM CIDADES.
APENAS VOCÊ EM MIM,
SEM DETERMINAÇÕS
SEM RADAR,
E ME ALEGRO SOMENTE CONTIGO.
E DIGO:
PHILO SU.

DISTÂNCIA E DORES

CADA MINUTO VIVIDO
É UM GRITO
ATURDIDO,
ABAFADO EM MINHAS VEIAS.
É UMA REAÇÃO EM CADEIA,
A DISTÂNCIA QUE SE
CONFIGUROU EM NÓS
ME MALTRATA
REALÇA EM MIM MEU
TOM DE TRISTEZA.
A DOR QUE SE ABANCA EM MIM
FAZ VENTANIAS
DE AREIA, E FAZ
DA VIDA UM ETERNO
DISSABOR.
A MINHA SAUDADES É
UMA VERDADE
QUE ARDE,
INVADE,
ME BATE COMO BOXEADOR.
A MINHA TRISTEZA
É LISONJEIRA,
DISTORCE AS LÁGRIMAS,
EM ÁGUA QUE MATA
A SEDE DO SOL
CINZENTO,
QUE ABRE EM DIAS
AZUL VIOLÁCEO.

CAUSA E EFEITO

AS MINHAS AÇÕES
SÃO INVOLUNTÁRIAS,
COMO UM MÚSCULO
QUE PULSA,
E NÃO PENSA
EM REAÇÕES.
AS REAÇÕES SÃO
DO MUNDO
RECEBO-AS COMO PANCADAS,
O RESSOAR DAS
MINHAS MANCADAS,
E SOFRO.
AS MINHAS CAUSAS SÃO CLARAS
DEFENDO AS MINHAS POSIÇÕES.
AS MINHAS OPÇÕES SÃO
CONTRADITAS
SÃO SINCERAS
E IMPREVISTAS,
E MINHAS.
OS EFEITOS SÃO REJEITOS,
DEPOSITÁRIOS DE
DEFEITOS.
EFEITOS SÃO RESPOSTAS,
CONSEQUÊNCIAS,
QUE FOGEM DAS MINHAS
COMPREENSÕES,
MAS ME RESPONDEM MUITAS
COISAS INDEFINIDAS,
E DECISIVAS.

SINAIS

VEJO SINAIS,
A TUA VOZ SILENCIADA,
COMO UMA ARMA ABAFADA,
TUA ÊNFASE CINZENTA,
MEIO QUASE,
QUASE NUNCA INSINUADA.
OUÇO SINAIS,
OS TEUS OLHOS FINGIDORES
MASTIGAM AS MINHAS
ILUSÕES,
CONSIDERAM APENAS
FRASES TORTAS,
SEM ENLEIOS,
ADIÇÕES.
SINTO SINAIS,
ME CHEIRAM MAL,
CONDUZEM-ME À SENSAÇÕES
QUE ANTES NEM SE FAZIAM
MINHAS.
SUPOSTAMENTE OS SINAIS DEIXADOS
SÃO SIGNIFICANTES,
MEIAS EM VERDADE.
OS SIGNIFICADOS DEIXADOS
SÃO DESCONSIDERADOS
DEIXADOS DE LADO,
E ME FAÇO CRER
NA NÃO EXISTÊNCIA
DOS SEUS SINAIS.
CREIO SOMENTE
NA INDECISÃO.

ME ACHAS TOLO? OLHE-SE!

NÃO SEI QUEM SOU,
ONDE ESTOU E
NEM PARA ONDE VOU.
ASSIM SOU,
UM SER PERDIDO EM
MEIO ÀS MINHAS
PRÓPRIAS PERCEPÇÕES.
EM MIM,
A VERDADE É UMA
FACA CRAVADA
NO PEITO DA TRAIÇÃO.
ME ACHAS TOLO,
UM INGÊNUO INVÁLIDO,
UM SINÔNIMO ULTRAJANTE
UM VIAJANTE SEM DESTINO.
OLHE-SE,
NÃO ME ENXERGUE
MAIS EM VOCÊ,
NÃO SOU EXEMPLO,
NEM LIÇÃO.
SOU O OPOSTO,
UM ROSTO EM
DESEQUILÍBRIO,
DESALINHO.
E SE ME ACHAS TOLO,
OLHE-SE,
VAIS VER QUE ESTOU
EM VOCÊ,
MAS VOCÊ EM MIM
NEM PRINCIPIA EXISTIR.

EU, PALHAÇO

RIA DO PALHAÇO
SEM CALÇAS QUE SOU.
UM PALHAÇO SEM CIRCO,
SEM EIRA NEM BEIRA,
UM CICERONE
QUE EXPÕE AS SUAS
BESTEIRAS.
ALEGRE-SE COM
MINHAS LÁGRIMAS,
SOU EU O FANTASMA
PAGO PARA TE ALEGRAR
COM AS MINHAS DORIDAS
FANTASIAS.
RIA,
ALEGRIA É UM DOM
EU QUE NÃO POSSO
ME ALEGRAR,
CHORO
REDECORO MEUS OLHOS
COM ÁGUA LAVADA
DE MOMENTOS PERDIDOS.
NÃO SOFRO POR SER
O BOBO DA SUA
CÔRTE,
APENAS EXERÇO A
MINHA FUNÇÃO NO PALCO
DESSA VIDA,
E ESPERO POR MUDANÇAS
MESMO QUE ELAS
NÃO ACONTEÇAM,
POIS UM PALHAÇO NÃO VIVE,
APENAS DÁ VIDA À
ALEGRIA DOS OUTROS.

FRIAS DELICADEZAS

SOU UM ANIMAL
QUE CHORA A DOR
DOS ESQUECIMENTOS,
ALEGRA-SE COM O
TREMER DAS ÁRVORES,
EMOCIONA-SE COM
O VAI-E-VEM DA VIDA.
SOU UM SER VITAL
EM MINHA REDE ÍMPAR
DE EXISTÊNCIA,
NUMA ILHA EM PLENA
DECADÊNCIA
DA VIDA,
DAS CHEGADAS
E PARTIDAS.
SOU UM SERVIÇAL
DE HOMENS TALHADOS
PARA O MEU MAL,
UM DISSIDENTE
DE MIM MESMO.
SOBREVIVENTE SEM
OPÇÃO.
SOU UM SER EM VÃO,
UM MERCADOR DE
JÓIAS FALSAS,
UM FALSÁRIO DE BUGIGANGAS
RARAS,
UM SER EM DISSONÂNCIA,
SOU ÂNSIA E DESATINO,
UM MENINO
EM FIM DE FESTA.

MORDAZ

AQUILO QUE ME
TORNA TÃO ÓBVIO
E TÃO SUBSTANTIVO
NÃO ME FAZ CONFORMAR
COM A PRUDÊNCIA DOS
IGNORANTES.
É APENAS UM RITO
DE PASSAGEM
ESSA MINHA CORAGEM
EM ME SUBESTIMAR.
IMAGINO MINHAS GARRAS
PRENDEDORAS DE ILUSÕES
SE SOLTANDO DOS GRILHÕES
DE AMOR QUE SEMPRE
PUS COMO SEGURANÇA EM MIM.
O MEU JOGO DE LINCE
AGORA NÃO TEM GRAÇA.
SOU FELINO, FERINO COMO
DOR DE DENTE,
ARDENTE COMO SEMENTE
NO OUTONO, E AINDA SIM
VAZIO,
MORDENTE, MORDAZ.
E ASSIM VORAZ, EU SOU.
QUERO TANTO AMOR,
TANTA PAIXÃO...
E ME COLOCO A RECEBER
TANTA DOR
E INGRATIDÃO.

NÃO QUERO MAIS!

NÃO QUERO MAIS!
OUVI ESSA FRASE
NUM DIA TÃO
CANSADO, TURBULENTO DE
COISAS POR ACONTECER.
ME SENTI COMO UM
BOLO ESTANCADO
NA GARGANTA, E
PRECISA SER REGURGITADO.
ME SENTI COMO
UM ALEIJÃO
NUMA PINTURA CUBISTA.
ART NOVEAU DAS
MINHAS IGNORÂNCIAS.
APENAS UMA FRASE,
E TANTAS REFLEXÕES
ME PERMEANDO
A FALTA DE JUÍZO.
NÃO TE QUERO MAIS!
E OS SINOS QUE ANTES
TOCAVAM, AGORA SILENCIAM
MINHAS LÁGRIMAS
GROTESCAS.
ESCANDALIZADAS EM GRITOS
ACOLHIDOS COM
AS MÃOS.
JÁ ENTENDI A
NÃO QUERÊNCIA,
JÁ ENTENDI A
FALTA DE ESSÊNCIA.
SÓ ME DIZ UMA COISA:
FAZER-ME DE BOBO
FOI PRAZEROSO?
ASSIM ESPERO, PORQUE
O MEU DIA DE
DIZER,
"NÃO QUERO MAIS"
NÃO TARDA A ALVORECER.

QUEDA

VOCÊ ME DERRUBOU
DO OITAVO ANDAR DA VIDA,
ME ATIROU DA SUA JANELA
DE VIDRO,
E ASSISTIU O MEU CAIR
COMO QUE FORA
UMA PARTIDA.
FINGIU INOCÊNCIA
DOS ATOS,
ME DEIXOU AGONIZAR
EM PEDAÇOS,
E PENSAS SER EU
O DONO DO ACASO?
VOCÊ ME JOGOU
NA SARJETA,
RIO DAS MINHAS
CARETAS,
LÁGRIMAS
E DISTORÇÕES.
RIO DAS MINHAS
FERIDAS,
FECHOU TODAS
AS MINHAS SAÍDAS
E MANCHOU DE SANGUE
O MEU CORAÇÃO.
A MINHA QUEDA FOI
INEVITÁVEL,
JORREI FLUÍDOS
E LIQUÍDOS INDELÉVEIS,
MAS AINDA SIM
CONSERVO EM MIM
RESTOS DE EMOÇÕES,
AGORA EGOÍSTAS,
DESDITAS COMO
EQUÍVOCOS.

GIGANTE

CONHEÇO UM GIGANTE
UM FARSANTE
DOS PEQUENOS E MÍNIMOS
GESTOS,
DISCREPANTE DAS GRANDES
E FURIOSAS REAÇÕES.
ESSE GIGANTE TEM NOME,
MORADIA E GOSTOS,
TEM UM ROSTO VIVAZ,
E UMA ALMA
FIRME COMO ALGODÃO.
UM GIGANTE CALADO,
SILENCIADO PELA COR
DAS SUAS FERIDAS,
IDAS COMO SAUDADES
EM DIAS DE ECLIPSES.
GIGANTE FADADO,
DESTINADO AO
FRACASSO.
ESQUECIDO
POR SOBRE OS LAÇOS
DE FITA E NÃO
AMOR.
GIGANTE DE APARÊNCIAS
QUE NEM SE QUER
VIVE EM ESSÊNCIA,
NEM PÔDE SE
CONHECER A FUNDO.
GIGANTE TÃO PEQUENO
ATURDIDO PELO EFEITO
DOS VENENOS,
QUE VIVE ATÉ A QUERER
SER INGÊNUO,
NUMA TERRA DE NINGUÉM:
O CORAÇÃO.

UMA RESPOSTA DESESPERADA

BUSQUEI RESPOSTAS
PARA MINHAS DORES
EM RECLUSÕES,
E LÁ ENCONTREI
SAUDADES.
BUSQUEI RESPOSTAS
PARA MEUS DISSABORES
EM RELAÇÕES
E LÁ ENCONTREI
ERROS.
BUSQUEI RESPOSTAS
PARA MINHAS FALTAS
NAS ALEGRIAS DOS OUTROS
E LÁ ENCONTREI
EGOÍSMO.
BUSQUEI RESPOSTAS
NOS DESATINOS
E LÁ ENCONTREI
TUMULTOS DE ALMAS.
BUSQUEI RESPOSTAS
NA SOLIDÃO
E LÁ ENCONTREI
TEU RASTRO.
AGORA QUE PERDI
A MINHA VERDADE
BUSCO NAS MENTIRAS
UM ALENTO,
MAS AINDA NÃO ENCONTREI.
AMANHÃ,
AINDA ESTAREI SEM RESPOSTAS
E MEU DESESPERO
EM TOTAL ALERTA.

POR VOCÊ

POR VOCÊ
LANCEI MÃO DAS
MINHAS ALEGRIAS
ABRI MÃO DAS
MINHAS POUCAS
ENERGIAS.
POR VOCÊ
FUI FORTE
FUI FRACO,
ATÉ INSENSATO.
POR VOCÊ
FIZ LOUCURAS
DESVESTI AS MINHAS
ARMADURAS
E LUTEI...
PERDI SANGUE
GANHEI AFAGOS,
PERDI VIDAS,
GANHEI SILÊNCIOS.
POR VOCÊ
CRIEI UMA IDENTIDADE
FUI EM BUSCA
DA FELICIDADE,
E ACHEI...
MAS PERDI!
POR VOCÊ
FERI MINHA GARGANTA,
DOR, LÁGRIMAS
E COISA E TAL,
ME FIZ ESTÁTUA DE SAL,
PRÁ PODER TE VER
ASSIM PASSAR.
POR VOCÊ
FUI GIGANTE
FUI ATEU,
VIVI CADA MOMENTO TEU,
EM DETRIMENTO
DAQUILO QUE
ERA MEU.
POR VOCÊ
ESTOU AQUI,
AINDA ESCREVENDO TEXTOS
INVEROSSÍMEIS
EM BUSCA DE UMA SALVAÇÃO,
SEI QUE NÃO VOU ENCONTRAR,
MAS ME ENCANTA
VER DE DENTRO,
A VIDA PASSAR,
LÁ FORA.

A INVENÇÃO DO AMOR

O AMOR FOI INVENTADO
PRÁ FICAR GUARDADO
NUMA CAIXA DE SAPATOS,
AGUARDANDO O MOMENTO
DE FUGIR.
O AMOR FOI FEITO PRÁ NOS
ILUDIR
SE FAZER INGRATO
E PARTIR.
O AMOR É UMA ALEGRIA TÊNUE
NÃO EXISTE INÍCIO,
MAS O FIM É CERTO.
O AMOR É UM VÍCIO
UMA SERPENTE NEGRA
QUE NOS ENREDA EM SUAS
ESCAMAS,
E NOS FAZ FELIZ.
O AMOR BRINCA COM A NOSSA PAZ
NOS DEIXA À BEIRA DO CAOS,
E NOS JOGA LADEIRA À BAIXO,
SOMENTE PELA FALTA
DO CONTATO.
O AMOR É UMA ILHA
QUE NOS APRISIONA
FEITO LOBO EM MATILHA,
E NÃO NOS DEIXA
PERMITIR O VÃO.
O AMOR É PURA IGNORÂNCIA,
É UMA INSINCERA DANÇA,
É ATO USADO COMO
SEMÂNTICA,
É SEXO BRINCADO
FEITO CIRANDA,
O AMOR É FEIO,
FALSO E MENTIROSO,
ME DEIXOU ROTO,
PERDIDO ENTRE MULTIDÕES,
ME DEIXOU EM MEIO
AO VAZIO DE CORAÇÕES.
O AMOR NECROSOU AS MINHAS
FONTES,
E ME DEIXOU A ESPERA
DE UMA MUDANÇA
QUE NUNCA ACONTECEU,
O AMOR ME FEZ MORRER,
E ELE,
AINDA NÃO MORREU.

MUDADO

TUDO EM VOCÊ
ESTÁ MUDADO,
MASCARADO PELO DESEJO
FOSCO DA PELE
ARDILOSA QUE TENS.
TUDO EM VOCÊ
ESTÁ MACERADO
ARQUEADO COMO LANÇAS,
ENTRISTECIDO
COMO BOLERO,
DANÇA.
TUDO EM VOCÊ
ESTÁ MARCADO,
A FERRO,
A FOGO,
A FACA.
E FAÇA DE MINHA DOR
ELEGIAS.
TUDO EM VOCÊ
ESTÁ MANCHADO,
ESTANCADO DE DESEJO,
VIBRANTE PELOS BEIJOS
QUE OUTRÉM
TE OFERECEU.
TUDO EM MIM
É FARSA,
DORES,
ALEGRIAS,
SAUDADES,
GEMIDOS,
TODOS OS MEUS SENTIDOS.
TUDO EM MIM
É SILÊNCIO
E DENTRO DO
MEU EU, ME REMOENDO,
ME AFASTANDO AOS POUCOS
EM BUSCA DO TUDO,
QUE EM MIM
É NADA.

LUTO

HOJE LÁ FORA
O SOL DA VIDA
FAZ FESTA,
ABRE AS PORTAS
DA ALEGRIA
PRÁ QUEM TEM VONTADE
DE SER ESTRELA.
TESTA TODOS OS
SONS E TRANSFORMA
GEMIDOS DE DOR
EM PAIXÃO.
NÃO HÁ SILÊNCIO,
NÃO EXISTEM FORMAS
EM SE FAZER AMOR CALADO,
ESTANCADO DESEJO.
HOJE LÁ FORA
EXISTEM CARNAVAIS,
CARNES E AIS
E SE VAIS,
QUE SEJAS FELIZ.
HOJE AQUI DENTRO
DE MIM
FAZ-SE LUTO,
SOU INFELIZ
NÃO HÁ DRAMA
QUANDO MINHAS LÁGRIMAS
CAEM,
É PORQUE O MUNDO FAZ FESTA,
NÃO ESTA
QUE NÃO CESSA
NESSE FUNERAL,
AQUI DENTRO
FORA DO HOJE,
EM MIM.

RE-CONSTRUÇÃO

OLHO PARA A VIDA
E VEJO OS VAZIOS
EM MIM,
HOJE PREENCHIDOS
DE SOLIDÃO.
NÃO É SAUDADE
É DORMÊNCIA
DOS MEUS SENTIDOS.
NÃO É DOENÇA,
APENAS MUDANÇA
NO SISTEMA DE
CRENÇAS.
A VIDA PARECE
NÃO MAIS MUDAR DE COR,
E MEUS OLHOS
TURVOS
BUSCAM O AZUL DO MAR.
DE TANTO FICAR SEM PENSAR
EM NÓS
É QUE FICO FELIZ
POR ESTAR SÓ.
É SÓ NÃO PENSAR NA VIDA
A DOIS
COMO ÚNICA PARTE
DE MIM,
QUE DESCOBRI NO HOJE
A SAÚDE DO MEU ESTAR
EM VIVER.

SAIA

SAIA,
PELA PORTA QUE ENTROU.
SE DISTRAIA,
ABRA E FECHE CORAÇÕES.
ATRAIA,
CORPOS, MENTES E CANÇÕES.
VIAJA,
TODOS TEM UMA SOLUÇÃO.
E NEGUE
TODOS OS MOMENTOS,
TODOS OS SENTIDOS
SENTIMENTOS,
TODAS AS ENORMES
SATISFAÇÕES.
CAIA,
ENCONTRE GESTOS E AÇÕES.
ME VAIA,
OS GRITOS AJUDAM NA
REFLEXÃO.
ME FAÇA
CHORAR,
PROCURAR MANEIRAS
EM NÃO MAIS SOFRER.
E TRAIA,
SAIA
SE DISTRAIA
E CAIA EM TENTAÇÃO.

CREPÚSCULO DOS OLHOS

AINDA QUE MINHAS
PALAVRAS SE PERCAM
EM MEIO AO VAZIO
DAS SUAS ILUSÕES,
FAÇO DAS MINHAS
LÁGRIMAS,
PORTA-VOZ DO
MEU CORAÇÃO.
SEI QUE CHORAS SAUDADES,
IMENSIDÃO,
CHORAS VALORES E DILACERAÇÕES.
SEI QUE SUA TRISTEZA
É POR CONTA DOS
MEUS "NÃOS"
DEIXADOS
À CONTENTO DE
NÃO MAIS SOFRERES.
PORQUE AGORA
É HORA DO EGOÍSMO,
HORA DE DESCOBRIR EM SI,
A CHAVE DA FELICIDADE
A CHAVE DA PAZ.
E QUANDO CHORO
VEJO EM MEUS OLHOS
O CREPÚSCULO,
QUE NÃO MAIS ANUNCIA
O FIM DO DIA
E SIM ALARDEIA
A CHEGADA DA LUA.

SEM AR

QUANDO QUIS
SER EUNUCO,
ME FIZ GUARDIÃO.
QUANDO ME APETECIA
A MÚSICA,
ME FIZ UM PROFUNDO
MENESTREL.
E NO CÉU DAS
MINHAS CANÇÕES
MUSIQUEI A DOR
EM FAVOR DO MEL.
QUANDO QUIS SAUDADE
ME PUS A ESPERAR
AO MAR,
A TE BUSCAR SEM AR,
SEM DOR,
EM PAZ.
QUANDO QUIS LEMBRANÇAS
TOQUEI MINHA PELE.
À REVELIA ARDI
EM DIAS DE SOLIDÃO
E NÃO DE SOL.
QUANDO QUIS VOCÊ,
NÃO TIVE.
VIVI MEUS SENTIDOS
SEM A CHANCE DE PODER
CONTER MEUS ATOS,
NAS SUAS CANSADAS
E SOFRÊGAS DANÇAS
NUAS,
SEM PELE,
NADA QUE A REVELE.
QUIS TEU COLO,
SEM TER,
ME COLOQUEI A BUSCAR
MEUS VÃOS
E SOFRI,
SEM SAUDADES,
MAS COM MUITAS ALEGRIAS ESTANCADAS.

O eu poente

Sorrir e bom pra
fingir tranquilidade quando o
coracao esgarça-se em dor...
Os meus dias serão assim,
cobertos de alegrias tristes
em carnavais de cores cinzas,
em tons esmaecidos.
Os meus olhos serão fagulhas
sangrentas de imaginações tardias.
A minha pele,
lugúbre
estará fechada à visitação.
A minha carne molhada,
jorrará seu mel para a sarjeta
dos meus desejos agora destruídos.
Minhas verdades nunca existiram,
foram apenas projeção dos meus sentidos.
O que sou?
Uma mentira mal contada,
uma galhofa em fim de feira,
eu sou desfiladeiro,
um vazio imenso,
sou o imantado de dor,
ou talvez aquele que finge
a própria dor,
para não se sentir menos humano
do que realmente é.
Em verdade?
Eu sou a pura falta de existir.

TODO DIA É DIA DE FESTA

TODO DIA QUERO TE TER,
PAGAR PRA VER
VOCÊ ME POSSUIR
E SONHAR COM VOCÊ EM MIM.
TODO DIA ALÇO VÔOS
EM SUAS ILHAS,
VASCULHO NAS SUAS IMENSIDÕES
O LUGAR CERTO PARA MEU
POUSO.
TODO DIA SINTO A SUA
FALTA,
DÓI SENTIR SAUDADE,
ME CORRÓI A PELE
A SUA AUSÊNCIA.
TODO DIA FAÇO PROMESSAS
DE ETERNIDADES EM ATOS
DE CONSISTÊNCIAS EM AÇÕES
DE PRESENÇAS EM AFETOS.
FAÇO DE MIM O SEU ACASO.
TODO DIA VEJO FRESTAS
E EM JANELAS ME COLOCO
A TE ESPERAR,
E EM CREPÚSCULOS ME
DEIXO A TE IMAGINAR.
TODO DIA É DIA DE FESTA,
O DIA DA SUA MUDANÇA
DE PRIMAVERA,
ESTAÇÃO, ESTADO, EMOÇÕES.
HOJE É O DIA EM QUE
A SUA EXISTÊNCIA
É FESTEJADA
COMO FERIADO NACIONAL.

HOJE É DIA DE FOLIA

HOJE É DIA DE FOLIA,
DIA DE ALEGRIA,
DOCE SINERGIA.
HOJE É DIA DE MAGIA,
O DIA DE SUA POESIA.
DIA DE GLÓRIA,
DIA DE FESTA,
ESTA QUE FOI FEITA
PRÁ COMEMORAR VOCÊ.
ESTE DUA É SOMENTE
UM PRENÚNCIO
DE TODA A SUA ALEGRIA.
HOJE É DIA DE VOCÊ
CRIANÇA,
QUE NESTA DANÇA
ME DEIXA A ALMA
EM ÂNSIA,
NA ESPERANÇA DE TE
ENFEITAR.
HOJE É DIA DE
MUDANÇAS,
DIA EM QUE AS
NOSSAS PROMESSAS
QUEREM SE TORNAR
PROPENSAS À VERDADE
DOS NOSSOS CÉUS.
HOJE É DIA DE CIRANDA,
DIA QIE A MINHA
ALIANÇA SE FAZ
PRESENTE ATRAVÉS DAS
NOSSAS NUANCES,
DE AMOR E NÃO
SAUDADE.

PRELÚDIO DE DOR

A MINHA ALMA CHORA,
EU CONTINUO A TE ADORAR,
E CHORAR É MINHA
OPÇÃO.
NÃO HÁ CAMINHOS A SEGUIR,
SOMENTE LÁGRIMAS A
ME ACOMPANHAR.
SENTIMENTOS PERDIDOS EM
AUSÊNCIAS,
E A MINHA CARÊNCIA A
ME TORTURAR.
A MINHA PELE ARDE
É UM ALARDE EM
MEU VIVER,
CADA TOQUE ME MACHUCA,
E GRUDA EM MIM
A FALTA QUE VOCÊ
ME FAZ.
DORES E DORMÊNCIAS
A ME ANINHAR,
EM SEUS BRAÇOS DE
IGNORÂNCIA,
QUE ÂNSIA É AMAR.
AS MINHAS MÃOS
RETORCEM,
CONTORCEM OS
MEUS ÓRGÃOS EM SEGUNDOS,
SEGURAS AOS DEDOS
TODOS OS MEDOS
E ME CONFORTA NO
MOMENTO DE SOFRER.

DESPEDIDA

DESPEÇO DE VOCÊ
AQUI NO SANTUÁRIO
DAS SEPARAÇÕES,
A ESQUINHA DA DOR.
TE DIGO ADEUS
PARA NÃO MAIS OUVIR
TEU CANTAR CARREGADO
MAGIA.
TE DIGO FUI
SEM VONTADE DE VOLTAR,
NEM PARA TRÁS OLHAR,
DEIXAR O PASSADO SUBMERSO
ÀS DESCOBERTAS DO PRESENTE.
ME DESPEÇO DE VOCÊ
AQUI NO MOMENTO EM QUE
VEJO EM VOCÊ
APENAS OLHARES ESCUSOS,
ESPAÇADOS,
COMO QUE DISSIMULANDO SEUS
ARDIS.
ME DESPEÇO DE VOCÊ,
SEM MAIS PALAVRAS,
SEM MÚSICAS
NEM TEOREMAS.
E DEIXO EM MINHAS PALAVRAS
AQUI INSCRITAS O ADEUS.
COM DOR TE ESQUEÇO,
E EM PAZ REFLITO:
- A CORAGEM DA PROCURA
FOI MINHA,
E A COVARDIA ESTAMPADA
EM SUA VONTADE DE
SER LIVRE
FOI APENAS SUA.

A ESPERA ACABOU

TANTO TEMPO LONGE,
TANTA COISA A DIZER,
TANTAS PALAVRAS INSCRITAS,
QUE NÃO DITAS
DEIXAM VÃOS A NOS SEPARAR.
TANTOS CARINHOS PERDIDOS,
TANTOS AFETOS E GRITOS,
TANTA VONTADE EM DESESPERAR
E NADA PRENUNCIA A
VOLTA DE ALGUÉM QUE
TANTO ME FIZ ESPERAR.
A ESPERA ACABOU
A TANTO TEMPO A CHORAR,
TANTA TRISTEZA A ME MACHUCAR
NENHUM MINUTO DE PAZ
EM MEU CAMINHAR.
TANTAS LEMBRANÇAS A DESEMBALAR,
DAS MINHAS CAIXINHAS DE AMAR,
QUE AGORA DEVEM SE ACABAR
TANTAS BUGIGANGAS EM
MEU CORAÇÃO A ME
DESPREZAR,
E FAÇO DOS SILÊNCIOS DO
TEMPO QUE ME SOBROU
A VIVER O RESTO DE EXISTÊNCIA
NÃO MAIS A ESPERAR.

O NORTE DA SORTE HUMANA

SEMPRE PENSEI QUE
A MINHA VIDA FOSSE
COMO SEMENTE,
QUE O TEMPO E A TEMPORADA
DESSEM FLORES,
E AS FLORES BROTASSEM
COMO INSTANTES,
DE VIDA E PAZ.
E ME APARECE UMA ONDA,
DESSE MAR DE GENTE
INSANA,
E ME CHAMA,
E ME CLAMA AMOR.
NUM PASSE DE MÁGICA
VIAJO,
ME ENTREGO,
ESPERO TEUS GESTOS
QUE NÃO CHEGAM
NEM A SE ANUNCIAR.
FAÇO DO MEU CORPO
AMULETO,
E ME RENDO AO SEU DORSO,
MAS NÃO HÁ JEITO,
O TEMPO ME TIROU
O TRONO, A FORÇA,
O OUVIDO PARA O SEU RONRONAR.
E TE PERCO, DE NOVO,
NÃO HÁ SOBREVIDA,
SÓ EXISTE ESPERA,
QUE NUNCA VAI SE ACABAR.

DE SAÍDA

APONTE-ME UMA SAÍDA,
UMA ESCOTILHA QUE ME DEIXE LIVRE
QUE ME LIVRE DA DOR
DE NÃO TE TER.
MOSTRE-ME UMA PORTA,
UM VÃO QUALQUER
QUE ME DEIXE A ALMA TRANQUILA
INVADIDA DE PAZ.
ONDE ENCONTRO UMA JANELA?
NO DÉCIMO ANDAR
DE ONDE POSSA ME JOGAR
E VOAR AO TEU ENCONTRO.
UMA ESCADA DE INCÊNCIO
QUE ME LIVRE DA FALTA DE SUA
PRESENÇA,
ME ENSINE,
ME FAÇA APRENDER
DECORAR TUA ALMA.
SEM VOCÊ NÃO EXISTO,
INEXISTO POR OCASIÃO,
POR PURO INEQUÍVOCO.
SEM VOCÊ SOU METADE,
UM HOMEM EM TARDE PARTIDA,
PURA SOLITUDE.
SEM VOCÊ SOU SUB-HUMANO
E NÃO CONSIGO NEM ME VER,
ME FAZ EXISTIR,
MOSTRE-ME A SAÍDA DESSE ESCURO,
E APONTE-ME A ENTRADA
DO SEU CORAÇÃO.

MUITAS VERDADES SE FAZEM DE POUCAS MENTIRAS

TENHO PENSADO SOBRE VIDAS
OPOSIÇÕES
CILADAS, E DORES.
TENHO SENTIDO DORIDO
O MEU PEITO
E NO LEITO DA SORTE
ENCONTREI VERDADES.
AS MINHAS VERDADES SÃO
INSULTOS,
INVOLUNTÁRIOS GESTOS
DIRECIONADOS AO ACASO,
E SE CASO CONTIGO,
ME MATO PELO INFORTÚNIO.
MINHAS MENTIRAS SÃO VIÇOS
DESTILADOS AOS POUCOS
ESPERANDO TOLOS
SEM ENREDAREM POR MIM.
AS VERDADES SÃO SEMPRE CASTAS
VIRGINAIS,
E SEMPRE MARGINAIS AO QUE
É BELO,
MENTIRAS
SÃO FORMOSAS,
SEMPRE DOTADAS DE CARÍCIAS
E MAGIAS.
AS VERDADES
SÃO FEITAS DE MENTIRINHAS
AQUELAS QUE NOS AJUDAM A
FUGIR DOS DIAS DE CHUVA
DOS DIAS DE SOL
SONHOS E ARREBOL.
VERDADES:
SÃO ELAS AS CRIADORAS
DO MEDO.

O DIA QUE QUASE MATEI O AMOR

HOJE PEGUEI MINHAS MALAS
E PARTI,
ABRI CAMINHOS ENTRE MONTANHAS
CAMINHOS ENTRE PESSOAS
CAMINHOS EM MIM.
QUASE ENCAMINHEI VERDADES
AO SEU CORAÇÃO TRAIÇOEIRO
QUASE MANCHEI MINHAS MÃOS
DO VINHO TINTO DE SUAS ALEGRIAS
QUASE ENCANTEI COVARDES
NUMA TARDE TRISTE.
HOJE ENTANQUEI MEU SANGUE
QUE JORRAVA DOS MEUS OLHOS,
E CORRI,
INVADI TERRAÇOS
ESCONDI SAUDADES
MENTI PALAVRAS.
QUASE ME FIZ DE VÍTIMA,
QUASE ME INTERNEI EM TI,
QUASE ME ENVENENEI NAS SUAS
GARRAS COR CARMIM.
HOJE TE LIGUEI AFOBADO
DISSE COISAS INSENSATAS,
MAS TÃO CARREGADAS DE VERDADES DOLENTES.
DISSE QUE TE AMAVA,
QUE TE QUERIA
E TE SENTIA ME INVADIR AOS POUCOS
NOS MOMENTOS TORPES
EM QUE SOMENTE PALAVRAS
BASTAVAM PARA ACALMAR
MEU SEXO DESESPERADO.
E HOJE,
QUASE ME MATEI DE DOR
AO SENTIR VOCÊ SUMIR DAS MINHAS
VISTAS,
E VISITAS MEU QUARTO EM NOITES FRIAS
PENSANDO ME DOAR SEU CALOR.
HOJE QUASE MATEI O AMOR,
MAS O QUASE NÃO É CERTO,
O QUASE NÃO É SEMPRE
O QUASE NÃO É VERDADE
É SOMENTE REALIDADE
CRIADA NOS MOMENTOS
DE LÁGRIMAS ATROPELADAS
POR SORRISOS ROTOS.
E QUASE VI O MEU AMOR PASSAR...

ARREPIO

UM DIA NORMAL,
PALAVRAS TROCADAS
CAMINHOS RECÍPROCOS.
A SUBVERSÃO DAS MINHAS
IDÉIAS.
ACREDITEI EM GESTOS
E AFETOS,
INSINCEROS MANIFESTOS
DE AMOR.
O ENCONTRO,
O ARREPIO, E A VONTADE
DE PARTILHAR JUNTOS
O APOGEU, O CUME
DO PRAZER.
UMA MENTIRA,
UM SENTIMENTO,
TUDO ACABA.
O RESSOAR DE UMA
DISCUSSÃO, A DOR.
LAÇOS QUEBRADOS
ROSTOS MARCADOS, MANCHADOS DE DOR,
E O VAZIO.
DUAS DIREÇÕES, UM CORAÇÃO
E A FALTA QUE VOCÊ ME FAZ,
UM OLHAR DUAS INTENÇÕES,
E O DESEJO DO FIM.

BARCO VIRADO

IMPRESSIONANTE
COMO POSSO VER
EM VOCÊ
DUAS IMAGENS,
DUAS IDÉIAS,
DOIS SERES INDISTINTOS,
APENAS SEPARADOS
PELA INCOMPREENSÃO
DA INCOERÊNCIA.
MANCHASTE AS MINHAS
ALEGRIAS COM O
SANGUE DAS
SUAS MENTIRAS.
FIZERA DE MIM
APENAS UM INSTRUMENTO,
MEIO DE SOBREVIVÊNCIA.
ENQUANTO BRINCAVAS
DE LAEGRAR-SE COMIGO
EU CONSTRUÍA
ILUSÕES PERDIDAS
SOBRE NÓS,
ALEGRAVA-ME COM A
IDÉIA DE
DOIS VELHINHOS
NA PRAÇA NO
FIM DE SEMANA.
SE AS INTENÇÕES ERAM
ME FAZER SOFRER
QUE PENA,
O BAQUE FOI FORTE,
VIROU O MEU BARCO,
E MORRI AFOGADO
EM LÁGRIMAS
E DESENCANTOS.

REPLICANTE

DENTRO DE MIM
TEM UMA IMAGEM
MIRAGEM MARCADA
EM MIM COMO
SINAL.
SINA MINHA QUE DEVO
SUPORTAR.
TENHO EM MIM
DIARIAMENTE
UMA COMPANHIA,
RÉPLICA,
UMA COSTUMEIRA
ÉTICA
EM MANTER-ME
LONGE DA
NAU-CAPITÂNIA
QUE TRAFEGA
À DERIVA
DA SOLIDÃO,
DA ERVA-DANINHA
QUE MALTRATA
MEU CORAÇÃO.
VIVO A ME ENCANTAR
COMIGO E MEU
MUNDO INCONSTANTE,
ME VEJO REPLICANTE,
DOTADO DE ALEGRIAS
INGÊNUAS
DE QUINTAIS.

ENCONTRO

E QUANDO ENCONTREI
TEUS OLHOS,
OS MEUS FUSTIGADOS
INEBRIARAM-SE
DE PAZ.
E QUANDO ENCONTREI
TEUS LÁBIOS,
MEUS SONHOS
SE TORNARAM FÉRTEIS
NA SUA CARNE QUENTE.
E QUANDO ENCONTREI
TEUS BRAÇOS,
OS MEUS PERDERAM
A IMPORTÂNCIA PERANTE
AOS TEUS.
E QUANDO ENCONTREI
A TUA PELE,
ME COBRI DE DESEJOS
E INSANOS BEIJOS.
E QUANDO ENCONTREI
TEU SEXO
UNI-ME A TI
COMO O VENTO
SE UNE A TEMPESTADE,
EM PROCELAS DE
AMOR
E VORACIDADE.

PROCURA-SE

SINTO
EM SUA PROCURA
APENAS PROMESSAS
VAZIAS,
UM QUERELANTE
DE SAUDADES DUVIDOSAS,
CHEIOS DE
ARDIS E ARTIMANHAS.
VEJO EM SUA PROCURA
UM SILÊNCIO IMPACTANTE,
QUE ME DEIXA A VOZ
ENTRISTECIDA,
POIS SÓ ME PROCURAS
DEPOIS DAS PARTIDAS.
VIVES ETERNAMENTE
A PROCURAR SEU PAR
A ENCONTRAR O TATO,
QUE FORNEÇA O CONTATO CERTO.
E SE NÃO ENCONTRAS
O MOÇO DA ESQUINA
VENS E ME AZUCRINA.
SE NÃO SE ENCAIXA
COM AQUELE QUE ACHAS,
SOFRES.
E ME TAXAS DE FUGÍDEO.
E ASSIM,
SUA PROCURA SEGUE
NÃO EXISTO NOS
DIAS DE CAÇA,
MAS POR CERTO
QUE CHORAS EM MEU
OMBRO AS
TUAS DESGRAÇAS.

SINTOMAS

OS SINTOMAS QUE POSSUO
ME DEIXAM EM DESESPERO,
CALAMIDADE COM
AS MINHAS PRÓPRIAS CONTRADIÇÕES.
O QUE EU QUERO
EM VERDADE
NÃO QUERO TANTO,
AQUILO QUE DESDENHO,
JÁ ESTÁ CONTIDO EM MIM.
CADA PALAVRA OUVIDA
ME DEIXA A SENSAÇÃO
DE JÁ SER ESQUECIDA.
CADA MINUTO PARADO
NO TEMPO.
MARCA EM MIM OS
LIMITES CARDEAIS
DO VAZIO AINDA CÁLIDO,
DEIXADO PELO FORASTEIRO
QUE MORA EM MIM,
MAS FOGE QUANDO
ANUNCIO A SUA CHEGADA.
VEJO EM MEUS OLHOS
LÁGRIMAS ANUNCIADAS,
VIVIDAS COM A
INTENSIDADE
DO PRIMEIRO ENCONTRO.
E SE QUERER IR
SIM, TOMAS DE MIM O SER
E PODES SEGUIR.
PORQUE AGORA
ME BASTA O SOM ABAFADO DOS
MEUS SOLUÇOS QUE
ME ACOMPANHAM E NEM
FAZEM QUESTÃO DE
COMPANHIA,
POIS A MINHA
FOSTE EMBORA
CONTIGO.

JARDIM

DIVAGO EM DIAS DE SOL,
BUSCO FOLHAS VERDES
PARA ANIMAR OS MEUS
TORMENTOS.
NAS NOITES VÃS,
DEIXO OS AFÃS
INSONES
E SOMES DE MIM FEITO NUVEM,
QUE SE ABRIGA NA LUA,
PARA FUGIR DO DIA.
DIVAGO EM MEUS DIAS
DE CHUVA,
CADA GOTA
ME PARECE LÁGRIMA
DISFARÇADA PELO
SOM DOS RAIOS.
QUE TENTAM ILUMINAR
AS ESCURIDÕES DOS
OLHOS.
NAS NOITES FRIAS
DEIXO MINHAS MÃOS
VAZIAS
À ESPERA DA
SUA MAGIA, FANTASIAS
À ESPREITA EM MIM.
DIVAGO EM DIAS
FELIZES,
PORQUE ME DIZES
COISAS TÃO BANAIS.
E SAIO PELOS JARDINS
A MUDAR A ROTA
DOS GIRASSÓIS,
QUE TANTO DÓI
VER PERDER O SEU
CAMINHO A LESTE.
NAS NOITES,
NÃO ME VEJO FELIZ
VEJO APENAS UM HOMEM
QUE DEIXOU DE SER
QUANDO DESCOBRIU
QUE APENAS ESTÁ.

ESTRANHO ESPELHO

AQUILO QUE VEJO
NO ESPELHO É O
OPOSTO
DAS MINHAS CONCEPÇÕES
HUMANAS,
DAS MINHAS MATURAÇÕES
INSANAS,
OPOSTO DO OPOSTO
QUE NEM VEJO.
AQUILO QUE VEJO
NO ESPELHO É UM
ROSTO,
PINTADO EM TOM
JASMIM
VERDE, BRANCO,
ORA FRESCO COMO
INOCÊNCIA,
VAZIO DE COERÊNCIA.
AQUILO QUE VEJO
NO ESPELHO É UM
TOLO,
UM HOMEM BOBO
FUGINDO DE SI MESMO
UMA CRIANÇA INÚTIL
FINGINDO SEGREDOS INGRATOS,
COMO ATOS DE UM ESPETÁCULO
FRACASSADO.
AQUILO QUE VEJO
NO ESPELHO É UM
OLHO,
QUE ME OLHA TORTO
E ME COMOVE,
REMOVE DOS MEUS
PRANTOS A LÁGRIMA
ESCONDIDA,
PORQUE O QUE VEJO
NO ESPELHO É O
OUTRO,
AQUELE UM QUE JÁ NEM
CONHEÇO MAIS.

NESSE MOMENTO

NESSE MOMENTO
QUERIA PODER SAIR AGORA
DO MEU ESTADO DE
AFASIA,
E PODER TE LIVRAR
DA DISTÂNCIA QUE
NOS OBRIGA A SOFRER.
PODER GRITAR E FAZER
OUVIR OS MEUS PEDIDOS
DE SOCORRO,
PARA PODER ME
LIVRAR DA DOR.
NESSE MOMENTO
EU NÃO SEI O QUE
DEVE, OU O QUE
VAI ACONTECER,
SEI APENAS DAS
MINHAS VAGAS EMOÇÕES,
QUE POR HORA NEM
SE MOSTRAM,
SIMPLESMENTE PRENUNCIAM
O INVEROSSÍMIL.
NESSE MOMENTO
QUERIA ABDUZIR-ME DAS
EXISTÊNCIAS TODAS
LIVRAR-ME DE CADA
LÁGRIMA QUE FORÇO
PRISÃO,
NA TENTATIVA DE CONSEGUIR
NÃO COMPROMETER
MEU HORIZONTE.
E NESSE MOMENTO,
QUERIA APENAS UM SINAL,
QUE ME FIZESSE CRER
NA POSSÍVEL
RE-UNIÃO DOS NOSSOS
OLHOS,
AGORA PERDIDOS
EM ILHAS.

SEM PALAVRAS

QUANDO EU DIGO
QUE NÃO TENHO MAIS
PALAVRAS,
É QUE O MOMENTO
DEVE SER SEGUIDO DO
SILÊNCIO,
DAS HORAS CANSADAS
E FALTAS PROLONGADAS
DE VOCÊ.
QUANDO EU DIGO
QUE NÃO TENHO MAIS
PALAVRAS,
É QUE AGORA
É HORA DE VOCÊ
FAZER MUDAR A COR DOS
OLHOS.
QUANDO EU DIGO
QUE NÃO TENHO MAIS
SAÍDAS
É QUE ESPERO VOCÊ
ANUNCIAR O CAMINHO
DA ALCÔVA,
E ME TRADUZIR
APENAS EM SUSSURROS.
QUANDO EU DIGO
QUE NÃO TENHO MAIS
SAÍDAS,
É QUE OS MOMENTOS
VIVIDOS JÁ NÃO
REPRESENTAM GRANDES
SURPRESAS,
E PRECISO CADA VEZ MAIS
DAS SUAS MÃOS
E ME ABRIR CAMINHOS.
E QUANDO DIGO QUE
NÃO TENHO MAIS
OS MEUS PASSOS
É APENAS PORQUE
AS PEGADAS DEIXADAS
NÃO ME REVELAM,
SOMENTE MARCA A
DISTÂNCIA DOS
NOSSOS OLHOS.

EM MIM

EM MIM EXISTEM VÃOS,
FRESTAS E JANELAS
PRÁ VOCÊ ENTRAR.
DEIXEI GUARDADOS
OS MEUS PECADOS,
PRÁ COM VOCÊ PECAR.
EM MIM EXISTEM NÓS,
AMARRAS QUE ME IMPEDEM
DE PODER VOAR,
CORRENTES QUE ME FAZEM
UM RÉU ETERNO A PENAR.
EM MIM EXISTEM DORES
QUE NUNCA CESSAM,
NUNCA APAZIGUAM A
MINHA PROCURA,
E TORTURA MEU SER
EM VÃO.
EM MIM EXISTEM FERIDAS,
ABERTAS,
PULSANTES COMO VEIAS
ABJETAS
QUE EXPELEM AO MUNDO
OS GRITOS DE HORROR,
QUE SÓ A MINHA PELE
É CAPAZ DE ALÇAR.
EM MIM EXISTEM VAGÕES
DO MEU TREM DESGOVERNADO,
QUE DESANDA A CORRER
SEM SEUS TRILHOS,
A ESPERA DE ESPECTROS
QUE FIGURAM EM MEU OLHAR,
EXPECTATIVAS
CHAMADAS
SAUDADES.

PRECISO DE VOCÊ

PRECISO DA SUA PALAVRA,
SUA EXISTÊNCIA,
SEU SISTEMA DE CRENÇAS
VIDA E MORTE.
PRECISO DOS SEUS ABRAÇOS
E SEUS BRAÇOS A ME GUIAR.
SUAS CONDUTAS
E SUA FORMA DE SER SIMPLESMENTE
CURTA.
PRECISO DE TODA A SUA
ATENÇÃO
SUA CANÇÃO CANTADA
EM "SI BEMOL".
PRECISO DA SUA COMPREENSÃO
EM SE DAR PRÁ MIM
E ME FAZER PERDER EM TI.
EU PRECISO DE VOCÊ EM
QUINTESSÊNCIA,
PRECISO DE UM POUCO MAIS
DE AUSÊNCIAS,
AUSÊNCIA DE SOLIDÃO,
AUSÊNCIA DE NÃOS,
AUSÊNCIA DE NÓS,
POIS QUANDO NOS UNIMOS
DEIXAMOS DE SER PLURAL
E NOS TORNAMOS ÍMPAR.

DUALIDADE

TE ADORAR
E TER QUE TER
CORAGEM A ME AMAR,
TE VER SE DAR
E DAR DE MIM SEU PAR.
ANDAR, ANDAR...
DOIS SERES
EM ETERNO LANCEAR.
ASSIM ME VEJO,
UM ELO UNIDO
AO ELO ESTRANHO,
ESTRANGEIRO,
DESLIGADO DO MUNDO INTEIRO.
ME ADORAR,
E TER QUE TER
CORAGEM
PARA TE DEIXAR.
ME VER A DAR COMIGO,
MEU ÍNTIMO MUNDO,
OS DESEJOS NECESSÁRIOS
A PODER VIVER.
ANDAR, ANDAR...
E PROCURAR
O CAMINHO CERTO PARA ENCONTRAR
A PAZ.
ADORAR,
SE DAR,
ANDAR,
SER,
ESTAR,
SABER VIVER,
SOZINHO,
SAUDOSO,
CIDADES,
SINUOSO,
INCESTUOSO,
SENTIDOS,
SEM TI
E AMAR.
A DUALIDADE CERTA
AO HOMEM QUE SE PÕE
A PROCURAR.

CAMINHOS CRUZADOS

QUEM SOU EU NESTE MUNDO?
NESSA REALIDADE
DISTANTE DE MINHAS
VERDADES?
LÁGRIMAS
ESCORREM DESCARADAMENTE
DO MEU ROSTO,
ILUMINAM A MINHA FACE,
AGORA REVELANDO
A MINHA IMAGEM.
TANTA BUSCA PELA
VERDADE,
QUE NÃO VEJO MAIS
CAMINHOS A SEGUIR,
NEM MOINHOS A GIRAR
MEUS VENTOS.
E O TEMPO?
A FAZER A VIDA MUDAR DE
ROTA,
MUDAR DE COLISÃO.
E EU?
FORASTEIRO DE MIM MESMO
ENXÁGUO COM L´´AGRIMAS
AS MINHAS TURVAS OLUSÕES,
NA TENTATIVA
TORPE DE ME SALVAR
DA SOLIDÃO.