NÃO HUMANO... EU

EU NÃO SEI QUEM SOU,
NEM O QUE DEVERIA SER,
SOU UMA SURPRESA ETERNA
A MIM E AO MEU MUNDO.
VIAJO CAMINHOS ESCOLHIDOS
A DEDO,
PASSEIO EM DESTINOS
NUNCA ENCONTRADOS,
E BUSCO FORMAS NAS
ÍLIADAS DOS SONHOS.
SURPREENDO PRAZERES
QUANDO CHORO,
DE ALEGRIA E
NÃO DE DOR,
MUSICO SUSSURROS AO
RELENTO
E DEIXO O VENTO ME CORTAR
E QUANDO SANGRARES A MINHA PELE
DEIXO AS LÁGRIMAS ROLAR
SEM MEDO DE ME VER
SEM MÁSCARAS
SEM SEXOS
PERDENDO O NEXO DO HUMANO
E VIVENDO O SONHO
DO SUB,
TALVEZ ESTRATO,
TALVEZ INEXATO,
MAS AINDA SIM,
NÃO HUMANO.

MÃOS CANSADAS

AS MÃOS CANSADAS
SE PROCURAM
E APENAS ENCONTRAM VÃOS,
PERDIDOS NA IMENSIDÃO
DOS MOMENTOS INSÓLITOS,
QUERENDO SOLUÇÃO PARA
AS DORES INSOLÚVEIS,
QUERENDO EXPLICAÇÕES
INDIGESTAS AOS OLHOS
PERDIDAS AO CORAÇÃO.
IMAGINAMOS ESCOLHAS,
E NÃO VEMOS O ACONTECER
DAS COISAS,
O MUDAR DOS TONS
O CAIR DAS TARDES
OS PÔR DO SOL
SEM SABOR.
QUEM SOU EU?
NÃO SEI DIZER,
NÃO SEI ENXERGAR MEUS VERBOS
E DIRIJO CARROS QUEBRADOS,
AMARGO SUA FALTA,
FINJO ADMITIR AS MINHAS FALTAS,
E SE FALAS EM AMOR,
PEÇO PRA SAIR,
SEM DIZER ADEUS,
ME CALO.

PERDIÇÃO DAS MÃOS E RENDIÇÃO DOS HOMENS

TODO SER IMAGINA-SE FORTE,
TORCE A FAVOR DOS VENTOS
CRÊ NAS ELEGIAS DE DENTRO,
DE SI,
E NÃO DO OUTRO.
PERDE-SE TEMPO COM INSULTOS
VOLIÇÕES E
TRAJETOS.
ADMITE-SE CORTEJOS
ALEGRIAS
E SONETOS.
RESPEITA-SE POUCO O SER
À DERIVA
PORQUE QUEM AMA
NÃO SENTE SUAS FRIEZAS.
AS MÃOS SE PERDEM,
GESTOS POR DIZER,
ATITUDES POR ACONTECER.
OS HOMENS SE RENDEM,
TENDEM A ACREDITAR EM FANTASMAS
E PASMAS FICAM SUAS CARAS
ROTAS.
O MEU RESPEITO
É COMIGO,
PORQUE CONTIGO,
HÁ MUITO DEIXEI DE SER,
E CRER
QUE ACREDITAS
EM SER.
AS MINHAS RENDIÇÕES
SÃO POUCAS
E DELAS ME PERCO EM GESTOS,
QUE ME DEIXAM LIVRE
E NÃO MENOS FELIZ,
NÃO POR RESPEITO
MAS POR OPÇÃO.

Se Abra

Se libere do caos mental
e se abra pra confusao emocional
q se instala
quando vc se apaixona.
Se perca nos corpos que vem,
viva intensamente
os momentos
e se ache nos muros da vida.
Se encontre calado,
em momentos gritados,
ria enquanto puder,
as lágrimas não mandam
correspondências.
Se divida pros outros,
há sempre alguém
que merece seus minutos,
dê de si um sinal,
mostre sua existência aos outros
há sempre alguém prá se interessar
por você,
não estamos sós.
Se mostre em vitrines
deixe o mundo te reconhecer,
deixe versos te beber,
se abra e se deixe vencer,
quem disse que ser um serviçal
não vale a pena?

SAMBA DOS MEUS DESEJOS TORTOS

HOJE EU
ACORDEI QUERENDO UM SAMBA,
DANÇAR FEITO MESTRE-SALA
ENCONTRAR A PORTA-BANDEIRA
DAS MINHAS NASCENTES
E VERTER CAMINHOS EM
ALEGORIAS.
ACORDEI DANÇANDO RENTE
AOS OLHOS DOS MEUS ADMIRADORES,
SIM SECRETOS,
IMAGINÁRIOS,
MAS QUE ADMIRAM MINHA SUNTUOSIDADE
CRIADA EM MEUS DESLIZES
DE EMOÇÕES.
HOJE ACORDEI CANTANDO,
BRINCANDO DIAS DE
CARNAVAL.
SENTI CALORES,
SUORES
E PRAZERES
ME PINTEI DE ARLEQUIM,
QUE ESPERAVA A COLOMBINA,
DEMOROU SUA CHEGADA,
ME ACHEI EM OUTRA ESQUINA,
ACORDEI VIVENDO FESTAS
CORAÇÕES E FLECHAS
ME ENCANTANDO,
ME DEIXANDO OS LÁBIOS
QUENTES,
PARA NO SEU BANHO
EU ME AFOGAR,
DE DESEJOS TORTOS,
CAMINHOS PERCORRIDOS
EM SEU CORPO
MAQUINANDO VOLTAS
A DAR EM SEU MUNDO,
FEITO DE PERNAS
E CORAÇÕES.

SOMOS PLURAL

VIVEMOS O MOMENTO
DO EU,
EGOS E ESTÉTICAS,
DESEJOS E ARMAS SECRETAS,
MENINAS E MALEITAS.
O EU DIZ QUEM ÉS,
O ELE
NÃO NOS IMPORTA,
TEMOS MEDO DAS NOSSAS
SETAS,
E CERTAS HORAS
SOFRO SEM CAIR.
ADMIRO MINHAS EGOÍSTAS
MODÉSTIAS
CHEIAS DE FALSAS
ANDANÇAS,
FINGINDO SER CRIANÇA.
TEMOS MEDO DO PLURAL,
DE SER
O SER TAL
QUE VAI VIR AMAR,
ANDAR POR ENTRE GENTES,
E PARAR PARA PENSAR.
TEMOS VONTADE
EM DEIXAR O SINGULAR
PARA CONJUGAR NOSSOS VERBOS
NA TERCEIRA PESSOA,
VERBOS DE AÇÃO E NÃO ESTADO,
DE FENÔMENOS E NÃO
COVARDIAS.

CORAÇÃO CRIANÇA

MEU CORAÇÃO
HOJE BATE FORTE,
DESCOMPASSADO,
ASSIM ACELERADO,
DESORDENADO AOS MODESTOS
CARINHOS DADOS.
MEU CORAÇÃO BALANÇA,
DANÇA DOSES DE ALEGRIAS
E ME DEIXA A ALMA
TRANQUILA TODOS OS DIAS.
MEU CORAÇÃO CRIANÇA,
BRINCA NA AREIA DA PRAIA
DOS MEUS SONHOS.
MEU CORAÇÃO CIRANDA,
SE MEXE E AGRADECE
ME DEIXA A PELE
LIVIDA COMO VENTO DO LESTE.
MEU CORAÇÃO NAVIO
NAVEGA SUAS EMOÇOES
E VIVE LOUCO PARA PODER
CONQUISTAR SEUS VÃOS.

ODE AO CONTRATO

TUDO BEM QUE NÃO ERA PRA SER AMOR,
NEM DOR,
RECUSO-ME A OUVIR GEMIDOS
ESTAMPIDOS DE DOR.
TUDO BEM QUE NÃO ERA AMOR,,
MAS TAMBÉM NÃO PRECISAVA
SER SAUDADE.
QUE MATA E ADOECE
E DEIXA TODOS LOUCOS
DE VONTADE.
TUDO BEM QUE NÃO ERA PRÁ SER AMOR,
O QUE ME CUSTA UM POUQUINHO
DE FERVOR?
GELADEIRAS NÃO SÃO PARA
GUARDAR CORAÇÕES
NEM FOGÕES PARA ABRIGAR
FRAQUEZAS.
ATÉ ENTENDO QUE NÃO DEVIA SER AMOR,
AFINAL DE CONTAS
TÃO DIFERENTES
PARODOXOS,
REDUÇÕES HUMANAS DE PRAZERES NOTURNOS,
ALMAS SOTURNAS
INUNDADAS DE EMBRIAGUEZ CALADA.
ME CHOCA VOCÊ DIZER
QUE NÃO É AMOR,
O AMOR É FADO,
ELO QUEBRADO,
BEIJO MOLHADO
O AMOR É FONTE
QUE REGA O SUOR,
ABAFA O CALOR
E GELA.
SE NÃO ERA PRA SER AMOR,
QUE PENA,
O QUE NÃO ERA,
NÃO DEIXA DE SER,
APENAS VIVE DO PASSADO,
ORA IMPERFEITO,
MAS QUE NO PRESENTE
NEM ENTENDE O SENTIDO DE SER.

DE REPENTE ENTRO E FAÇO...

INVADO TEU QUARTO
E GUARDO SEMENTES
EM TI.
DEIXO EM TI
A MINHA MARCA,
ASPEADA FEITO
CITAÇÃO DO PASQUIM.
REMEXO TEUS SONHOS
E VESTES,
E ANTES QUE DESTES
TEU SELO A MIM,
VOLTO A ME PERDER EM SUAS
PERNAS COM MEU
FLORIM.
DESAFIO TEUS OLHOS
AMIÚDE,
E TE AGRADEÇO
OS TONS ASSINS.
ORA CRIANÇA,
ORA INFANTE,
NOUTROS MOMENTOS TÃO
DELIRANTE,
MAS QUE CONSERVA O GOSTO
DE NÃO TER FIM

E MASCARO MINHA DOR

QUANDO ME VERES SORRIR,
NÃO INVEJE-ME
ESTENDA-ME A MÃO,
POR ATRÁS DAS DOCES
GARGALHADAS
ESCONDE-SE UM HOMEM TRAPO,
DORIDO E CASTO.
QUANDO ME VERES CHORAR,
PREOCUPE-SE
A COISA PROVAVELMENTE
ESTÁ POR SE DESTRUIR,
POR SE AFUNDAR,
AFUNILAR OS MEDOS.
QUANDO SOUBERES QUE SUMI,
CORRA,
O TEMPO É CURTO
E POSSO ESTAR PERDIDO EM
ALGUM LUGAR DAS ESQUINAS
QUE EM VOCÊ ENCONTREI.
QUANDO A LIGAÇÃO CAIR,
RETORNE,
TENTE, REFORCE SEUS GESTOS,
ME MOSTRE QUE PODES.
SE POR ACASO AS CARTAS NÃO CHEGAREM,
REFLITA,
ALGO DE ERRADO ACONTECEU,
OU ANALFABETO FIQUEI,
OU CEGO ME DEI.
QUANDO FALTAR UM DIA SEM
A MINHA LUZ,
RECOLHA-SE,
REALMENTE A ESCURIDÃO PERTURBA,
FAÇA SILÊNCIO,
MEDITE,
SEUS MEDOS SÃO FRÁGEIS, COMO EU.
MAS SE UM DIA EU NÃO FIZER
NADA...
DESISTA,
EU JÁ MORRI A MUITO
E NÃO BATO MAIS EM SEU PEITO,
E NO SEU LEITO DE MORTE
VEJO A SORTE PARTIR,
CANSADA
DE DAR SINAIS
E VOCÊ SUBVERTER
SEUS MODOS.
MAS, AINDA ASSIM
SEREI SEU,
MESMO MORTO,
POIS A MORTE É PALAVRA
O ATO É PASSAGEM.

DANÇA DOS MEDOS

VIVEMOS COM MEDOS,
DE VIVER
E NÃO PARAR PARA DESCANSAR
DE MORRER
E NÃO TER TEMPO PARA COMPENSAR
AS FALHAS
AS FALTAS
AS MUITAS ILUSÕES VISITADAS.
OS MEDOS DE SORRIR
E NÃO SER CORRESPONDIDO,
DE CHORAR
E SER DESMENTIDO,
DE AMAR
E SER SUBMETIDO
AOS FRACOS
AOS TORPES
AOS ASCOS.
TODOS TEMOS MEDOS DE CANSAR
E NÃO DORMIR
DE CHAMAR
E NÃO OUVIREM.
TEMOS MEDOS DE SUORES
GESTOS OBSCENOS
ELEITOS E DEPOSTOS.
AMEDRONTAMOS COM ABRAÇOS
QUE ACABAM E
NÃO SE REPETEM
QUE SE REPETEM E NÃO AGRADAM
QUE SE REPELEM E SE AGRAVAM.
JÁ TIVE MEDO DE MORAR CONTIGO,
DE SONHAR JUNTINHO
DE AMAR NUM NINHO.
MEDOS DE BICICLETA
DE AVIÃO,
DE BEIJAR
E SE APAIXONAR.
AMANHÃ TEREI MEDO
DE ANDAR
E CAIR,
DE CHORAR E SORRIR
MAS MESMO COM MEDOS
TEREI CORAGENS
ATÉ PARA SENTIR OS MEDOS
QUE ASSOMBRAM MINHAS FACES
E ESQUENTAM A MINHA PELE
PORQUE O MEDO
É BOM,
E OS BONS MOMENTOS
SÃO VIVIDOS CONSIGO MESMO.

DUAS CARAS, UM GESTO

VIVO A IMAGINAR,
SONHAR CONTATOS INDISCRETOS,
DIRETOS GESTOS A VOCÊ.
VIVO A CANTAR,
CRIAR VERSOS A DEFINIR SUAS TESES,
SEUS LESTES, SUAS NOTAS MUSICAIS,
SEUS OUVIDOS A ME ENTOAR.
AS VEZES ME VEJO DÚBIO,
UM SER EM CONSTANTE PERDIÇÃO,
OLHANDO OS MUNDOS
EM CONFISSÃO.
NÃO TENHO MEDO,
AS CARAS QUE APROVO,
NEM SEMPRE REVELAM MINHAS MÁSCARAS,
NEM ESCONDEM MINHAS TÁTICAS,
DE CONQUISTAR,
DE AFASTAR
DE DAR DE MIM OS ELOS.
UM GESTO,
UM CANTINHO DE VOCÊ
UMA PALAVRA APENAS
ME DEIXA FRACO,
PERDIDO EM VOCÊ
COMO ATO,
TEATRO,
FECHADO
EM APRESENTAÇÕES ÚNICAS,
DADAS A VOCÊ,
OFERECIDAS A MIM,
EM ATOS DE AMOR,
E GESTOS SECRETOS.

SANDUÍCHES DE GENTE

OS LADOS DO MEU CORPO
PROCURAM SUAS HASTES,
BRAÇOS A ME ENVOLVER.
MEU DORSO CHORA
SUA PELE QUENTE
CANSADA DE DOER
E SE DÁ PRÁ MIM
ATÉ ADORMECER.
MEUS PÉS CAMINHAM SUAS ESTRADAS
BUSCAM SUAS CAMINHADAS
VISLUMBRAM SUAS ESFERAS.
QUANDO PECO,
É POR VOCÊ ME COMOVO,
EM VOCÊ ME PERDÔO,
E VOLTO PECAR
PRÁ NÃO ME DEIXAR SEM PERDÃO.
QUANDO ARDO,
É POR VOCÊ QUE ME ABRAÇO
DEIXO VAZIOS
OS LUGARES MAIS AMADOS.
EXTRAVASO,
E LAÇO TEUS OLHOS
COM MINHAS BOCAS
TODAS A TE PROCURAR,
E ME COLOCO A TE ACHAR.

INDIGNO, EU SEI

ME DESESPERO,
ABRO O VERBO
PERCO OS ADJETIVOS
E GANHO ADVÉRBIOS.
DE MODO,
E INTERROGAÇÕES.
EXCLAMATIVAS SENSAÇÕES DE CHORO,
QUE ENGULO
E DEGLUTO COMO DEGENERADO.
MAS NÃO SOFRO,
NÃO CAIO EM TENTAÇÕES,
POIS VIVO DENTRO DELAS,
PERDIDO
E INCANSAVELMENTE PERDIDO EM
MINHAS ALEGRIAS INSANAS.
DESEJANTE DE NOVOS ELOS
NOVOS SERES,
QUE ME VEJAM E ACOLHAM MEU SER.
NÃO SOFRO,
NÃO CHORO,
NEM TAMPOUCO EXAGERO,
APENAS ME COMPORTO
COMO FORTE
E FAÇO DESSA VERDADE,
UMA ÚNICA VONTADE EM MIM.
IMPORTANTES,
NÃO SÃO AS VERDADES
SÃO AS VONTADES CONTIDAS NOS HOMENS
QUE MUDAM AS VIDAS
E DITAM AS REGRAS
DE SER FELIZ,
E NÃO SER MAIS DIGNO...
DIGNIDADE SE PERDE
PRAZERES SE CONQUISTA.
SOU INDIGNO EU SEI,
MAS QUE ME IMPORTA?
OS DIGNOS SÃO SEMPRE FRACOS
ATRELADOS AOS SEUS VALORES
E NÃO VÊEM O VALOR DO OUTRO.

OUTRORA VI SAUDADES, HOJE VEJO VAZIOS

ADMIRAR PERFEITOS
BOSQUES E TRADUZIR VIDA EM
FUNÇÃO DOS GESTOS.
A ÚNICA LIÇÃO QUE APRENDEMOS
DESDE CEDO É MAGOAR O OUTRO,
E A SI PRÓPRIO FERIR.
UM HOMEM É METADE
COM VIDA,
E SERENO EM PARTIDA.
MINHA VIDA É POUCO,
ME DEIXA LOUCO O QUE DEMAIS
ME AFETA.
MINHA VIDA É TANTO,
LAMENTOS PLANTADOS EM
OUTONO,
PARA NO ESTIL
COLHER SAUDADES.
MEUS VÍCIOS SÃO MUITOS,
E DELES ADMITO MINHAS
METONÍMIAS CANSADAS,
OUTRORA ESGARÇADAS DE
SINGELOS GESTOS
PERDIDOS.

PARA NO DIA DOS NAMORADOS

ANDAR POR ENTRE CALÇADAS,
CALÇAR CHINELOS INEXATOS,
ANDAR NA CONTRAMÃO
DAS VIRTUDES
E SONHAR DESEJOS PERDIDOS.
ASSIM RESTO DE SER EU SOU,
UM PEDAÇO VAGO DE ESTAÇÃO
DE TREM LOTADO,
UM VAGÃO DE CORAÇÃO CANSADO,
MORTO, ARREBENTADO
DE FANTASIAS VÃS.
SENTI SAUDADES EM FERIADOS,
ROUBEI ALFORJES EN DIA DE NAMORADOS,
PARA NO DIA SANTO
CHORAR LÁGRIMAS E TANTOS
DESEJOS PERDIDOS EM
OUTONOS.

SUORES MELANCÓLICOS

DE TÃO GRANDE QUE ERA
SE FEZ PEQUENO
O SER EM CONSTRUÇÃO.
DE TÃO PEQUENO HOMEM QUE FUI,
HOJE ME VEJO GRANDE
E INEXORÁVEL,
SUPOSTAMENTE EGO,
RETICULARMENTE BLINDADO.
INACESSÍVEL A OLHOS,
SERPENTES E BOCAS CARMIM
RÓSEO DELICADO.
CADA OLHO MEU
ENXERGA UM NORTE,
BUSCA COM A SORTE CONSTRUIR
SUTIS E MELANCÓLICOS CASTELOS DE AREIA
DA PRAIA DOS MEUS SONHOS,
CADA ENCANTO CONSERVO MACERADO
EM MEUS MOMENTOS
ODOR JASMIM.
DAS QUERÊNCIAS TODAS
ME SOBROU SENTIR
E DEIXAR CINTILAR O MEL DAS
ALCOVAS QUE ME COLOCO A
VISITAR EM SONHOS...

DIAS DE FESTA EU CHORO

DIAS DE FESTAS
EU CHORO.
MASCARO MINHAS LÁGRIMAS
EM ALEGRIAS ESTRANHAS,
DOTADAS DE
VERMELHOS SORRISOS PÁLIDOS
E QUANDO SINTO
SUORES ESCAPREM DAS RETINAS,
BANCO O "DON JUAN"
CORTEJANDO AS MENININHAS.
DESESPERADAMENTE FORJO
CRIO SENTENÇAS EM MIM
DISFARÇADAS,
DE DOR E NÃO AFETO.
QUANDO SENTAS COMIGO
DESEJO UM COPO VAZIO
DE VIDA E DUPLO DE AGONIA
PARA NÃO VER MAIS BROTAR
EM MIM A COVARDIA,
DE SER PEQUENO NO FINDAR
DOS JOGOS,
DE APELO E NÃO AMOR.

ARREPIO FRIO

Cada minuto cansado,
dorido de gestos insólitos
me deixam a cabeça quente,
fervilhando desejos,
de abraços que não foram
de sorrisos ameaçados
carinhos desvanecidos...
Sinto gelar a pele quente,
olho para trás
é você com sua língua fria de solidão,
me levando o medo com os arrepios,
Salto aos seus braços
e provo ao meu medo
o valor dos teus incertos desejos em mim.
Volto a me perder e me banhar em ti,
dou-me inteiramente aos devaneios
para quando a noite chegar
Eu reclamar a sua língua fria em minhas costas
com o gelo seco da solidão,
levando embora toda a imensidão
dos medos,
deixando apenas
os arrepios frios
que me fazem gemer
sob suas mãos.

Faz de mim seu gesto

Quem me dera
poder ouvir tua voz
nos dias de cansaço
e dor
sentir seu sorriso
em noites de calor
e morrer em teus bracos
em fontes de amor...
quem me dera ser teu conselheiro,
seu teu amigo e braseiro
um momento em ti me faz
viver...
Quem me dera estar em paz comigo,
viver a paz contigo
e dar de mim os sons em teus ouvidos.
Um delirio e te abraco
abraso tuas lágrimas
e faço do minuto
uma eterna luta em de se dar
e se perder,
mas ainda sim,
me fazer em ti feliz.

CATIVO

MEUS CAMINHOS SÃO CURTOS,

QUASE MUDO A DIREÇÃO,

ENCONTRO SINAIS...

DE AMOR E NÃO MEDO,

E VALOR QUE NÃO É CEDO.

CADA MUDANÇA UM GANHO,

CADA GANHO UM NINHO,

CADA NINHO UM AMOR,

A ME PÔR EM CONSTANTE

EMOÇÃO.

AS PAIXÕES BROTAM

DOS VAZIOS,

E DELES SE FAZ CANÇÃO,

PARA EM MOMENTOS DE SUOR

APRENDER A SER CATIVO,

ESCRAVO POR QUERÊNCIA,

SEM QUERER O SER SOZINHO.

ME DEIXA SER AMIGO

ME DEIXA BRINCAR DE SER AMIGO,
ADORMECER TRANQUILO
E SONHAR CONTIGO,
TRANSFORMAR A POSSE
EM IMENSIDÃO.
ME DEIXA TE GANHAR
COM UM SORRISO,
FAZER DO MEU O TEU CAMINHO,
E COM ELE VIVER BUSCANDO AS
SENSAÇÕES.
DE DOR E GOZO,
SONHOS E CANÇÕES,
DOCES E AMARGAS EMOÇÕES.
ME DEIXA FLUIR EM TI CAMINHOS,
ESTRADAS DE PERDER
E ACHAR UM NINHO
PARA CONSTRUIR CONTIGO
UM MAIS NOVO E DOCE
CÉU.

QUEM SE PENSA NÃO É

POR CERTO QUE SOU UM RÉU,
NÃO ME ACUSO DORES,
NEM DISSABORES
DE VIDAS SUGADAS EM MEU DOSSEL.
SOU RÉU
POR ASSIM ASSUMIR OE ERROS,
ADMITIR MEUS DEDOS
QUE APONTAM SOLIDÃO.
ACUSO-ME ESCÁRNIO,
DA POBREZA ESPIRITUOSA
DOS FARSANTES
QUE EM NOITES ELEGANTES,
VESTEM SEUS GESTOS AMORAIS
ANDAM EM CARROS DE INGLÓRIAS
E BEBEM VINHO DO SANGUE
ALHEIO.
E ASSIM ME VEJO,
CALMO ENTRE DORES E CLAMORES
VEJO VÃOS EM ETERNAS MULTIDÕES
E ANDO POR ENTRE A GENTE
MALDIZENTE
QUE VIVE APENAS POR
SE PENSAR SEMENTE.

O QUE É SÉRIO

ACORDAR E RIR
AO NASCER DO SOL,
ME FAZ ACREDITAR
NO RESSURGIR DOS SONHOS,
NO FINDAR DOS MEDOS,
NO MANTER DOS TRILHOS.
SOMOS HUMANOS,
QUASE SEMPRE LOUCOS,
EM BUSCA DE CONTENTAÇÃO.
MINHA LIDA É EM TORNO DAS
MINHAS INVASÕES,
DESCOBERTAS,
ENTRADAS E BANDEIRAS.
AS MINHAS VINDAS
SÃO ASSIM CARNAVAIS,
CANIBAIS,
NÃO MENOS HUMANAS E LOUCAS.
ACORDAR E VER O SOL NASCER,
ME FAZ VER,
QUE NADA É PARA SEMPRE,
MAS TUDO VALE A PENA.

DOR DE AMOR SE CURA AO SOL

DOR DE AMOR É RUIDOSA,
FAZ BARULHO E SILENCIA.
AO SOL PEDE SUOR E ARDOR,
DOR DE AMOR É
DESAMOR.
SE FAZ POR SER ERRADO,
O PAR OPOSTO,
INCERTA FIDELIDADE HUMANA,
DOR DE AMOR
É GARGANTA NUA, A ESPERA
DE GRITOS.
ÁGUA CURA PERDAS,
LAVA-SE LÁGRIMAS E
ESCONDE-SE OLHOS,
DOR DE AMOR É CEGUEIRA,
QUE COMO FEBRE TERÇÃ
ME DEIXA O CORPO VÃO.
POR CIMA DOS MUROS DOS OLHOS
VEJO TRAIÇÕES,
GOZOS CALADOS.
DOR DE AMOR É AGONIA,
ALGAZARRA DOS MEDOS INSTANTES.
DOR DE AMOR É INVERNO,
POR ISSO REZO O VERÃO
NÃO TARDAR E
ANTECIPAR MINHAS CURAS,
O ESQUECIMENTO DAS FERIDAS DISTANTES.

IMAGENS

NÃO SOU UMA IMAGEM

DO QUE DIZEM QUE SOU,

EU SOU UM ACONTECIMENTO

PROPOSITAL,

UMA FORÇA DESUMANA E TAL.

SOU UM RIO CORRENDO,

EU SOU O VENTO,

QUE O TEMPO SE ENCARREGA

DE VESTIR,

EU SOU O PORVIR.

SOU UMA ENCOSTA, QUE EM

DIAS DE CHUVA

RESISTE E NÃO MOSTRA,

SUAS FRAQUEZAS E TEMPORAIS.

EU SOU UM MÍSTICO, SOL NASCENTE,

UM DENTE A DOER,

UM PRIMATA QUE MATA

E FAZ NASCER.

QUE PROMETE,

MAS QUE CUMPRE A SI,

O SONHO DE SER FELIZ,

PORQUE SOU GRIS.

Tatuagem

AS MARCAS QUE VIDA
NOS DEIXA,
SÃO TATUAGENS,
AS CARREGAMOS POR TODO
O SEMPRE,
MESMO QUE NEGUEMOS, POIS A SUA EXISTÊNCIA.
QUE POR MERO ACASO
OCUPA OS VÃOS DA
AUSÊNCIA.
AUSÊNCIA DE DOR,
DE AMOR,
DE DOR DE AMOR,
DE DESAMOR,
AUSÊNCIA DA AUSÊNCIA DE DOR.
TATUAGENS SÃO COMO FRESTAS
DENUNCIAM NA PENUMBRA
A EXISTÊNCIA DO ODOR.
ODOR DOS FRACOS,
DOS DESAMPARADOS, QUE NOS MARCAM,
PRA FUGIR DO CONTATO.
EXTRA-CORPÓREO,
INTRA-FÍSICO,
ULTRA-INTERINO.
AQUELE CONTATO
QUE TE FAZ INVASOR E
INVADIDO.
MAS QUE NÃO TE DEIXA
EVADIDO DE MARCAS
QUE TATUAM A TUA EXISTÊNCIA.

DESENCANTO

QUANDO O AMOR ACABA,
APAGA OS RESTOS DE ILUSÃO,
DESÁGUA A DOR EM SOLIDÃO,
VIAJA O MEDO EM AVIÃO,
TRIUNFA A PERDA EM SEQUIDÃO.
QUANDO ACABA A DOR
DESAMOR,
É HORA DE SEGUIR O SOL,
SONHAR O ARREBOL,
DAR DE SI
O MELHOR EM MIM.
HORA DE FIGURAR O RISO FÁCIL,
OS ATOS FALHOS,
INSINUAR OS VÃOS.
SE O AMOR RENASCE,
A PELE ARDE,
UM FOGO QUE INVADE,
O DOM DA ADMIRAÇÃO.
MOMENTO DE REVER
SEGREDOS,
REVIVER OS MEDOS, DO CORAÇÃO.
HORA EM QUE OS HOMENS
SE DÃO CONTA DE SUAS EXISTÊNCIAS.
E NÃO QUEREM MAIS AUSÊNCIAS.
E EU,
QUANDO TUDO ACABA,
É QUE FICO PLENO,
CERTO DOS MEUS ATOS,
E DONO DAS MINHAS VERDADES,
QUE NINGUÉM É CAPAZ
DE ENTENDER.

EM QUE ME VEJO

O QUE HÁ DE ERRADO COMIGO?
NÃO CONSIGO ACHAR ABRIGO
NEM VEJO MAIS CAMINHOS.
O QUE HÁ DEMAIS NO MUNDO?
QUE ME DEIXA TÃO ABSURDO?
ME DEIXA ASSIM
SUJEITADO A NADA TER
E SER TÃO POUCO.
O QUE ME FAZ INSULTO?
MINHA EXISTÊNCIA SE FAZ CINZA
E MARROM,
CORES DO MEDO, DA DESILUSÃO
DA FALTA DO AZUL.
O QUE ME FAZ FELIZ AINDA?
NADA,
UM MOMENTO PRÁ PENSAR, E,
AINDA
VEJO-ME ABOSLUTO.
INVENTO HORAS,
MINTO MEUS GESTOS,
CRIO FALSAS VIDAS.
O QUE A VIDA ESPERA DE MIM?
TALVEZ MAIS FRACASSOS,
MENOS TENTATIVAS NÃO SEI.
E A DEIXO DELEITAR-SE
EM MEU MAR DE EQUÍVOCOS.
QUANDO CONVÉM
EXISTO,
O RESTO É VIDA,
QUE NÃO É MINHA...

FILHO DA SANTA

MUITAS VEZES FUI CRIANÇA,
PARA NÃO DIZER FILHO
DA MOÇA
DIGO,
FILHO DA SANTA.
QUANTAS VEZES FUI ANIMAL
E DO CURRAL QUE É O MUNDO
FUGI.
PLANTEI SEMENTES
E OLHOS DEMENTES
EU VI.
COZI SAPATOS
E CANTIGAS DE AMOR.
QUANDO FUI REI,
MEU CÉU SE FEZ SÚDITO
E QUANDO PLEBEU ME VI.
DE SÚBITO PERDI...
AMARRAS, ANÉIS,
CANTATAS DE AMOR
PERDI.
E QUANDO PARTI,
MINHAS CINZAS NEGRAS ESVAÍRAM
CAÍRAM NAS TENTAÇÕES DA VIDA,
E DA MORTE
SOBREVIVI.

DEPENDÊNCIA

SÃO RAROS MEUS DIAS
DE HARMONIA
TODOS OS SENTIDOS
FEITO FURACÃO.
DURADOUROS
OS DIAS DE AGONIA,
QUE NÃO ME DEIXAM
ESCANDALIZAR OS GESTOS,
PARIDOS QUASE AOS BERROS.
NÃO ME IMPORTA SE ACONTECES,
NEM SE CONSEGUES
A MIM DERRUBAR.
LEVANTO-ME
E ME OBRIGO A SEGUIR,
POIS RARA É A VIDA
E DELA SOU AMANTE,
E QUANDO ME SINTO FRACO
PENSO NO QUE ANTES DEIXEI DE VIVER
PRÁ SOMENTE AGORA
ME DAR CONTA DE COMO
É VÁLIDO ESTAR AQUI A VIVENCIAR,
PERDER OU GANHAR
INDEPENDE O SORRISO
DO MOMENTO VIVIDO,
O QUE IMPORTA
É A SUA EXISTÊNCIA
AINDA QUE TARDIO.

Ainda bem que vivo estou

O médio astral
que reina
me faz acreditar
que tudo vai mudar
e que nada passa
apenas os olhos se deixam levar
nada e tao raro
nem nada e tao estranho
mas ainda sim vejo
tudo mudar
mesmo se nada passar...
o que é adelante
é miragem
o que é pretérito
é montagem
o que é real
é mentira...

SINOS E CIDADELAS

SOU UMA CIDADE,
ABRIGO GENTES
DESENCAMINHO VIRGENS.
EM MINHAS MARQUIZES
DORMEM SERES.
EM MEUS ESPAÇOS
DANÇAM BOTOS.
MINHAS ÁRVORES
JÁ SÃO POUCAS
MAS RESISTEM AOS
HOMENS.
MEUS CASTELOS
ESCONDEM MINHAS VEIAS
COM SEU LÍQUIDO VISCOSO.
MEUS DUELOS JORRAM
FLUÍDOS CANSADOS DE SE DAR.
MEUS PARQUES
GUARDAM ALGAZARRAS
MENINOS AMANDO SUAS
BESTIALIDADES INOFENSIVAS
MINHA PERIFERIA
MUITA GENTE
E POUCOS SONHOS.
TANTOS E MEROS ELOS.
EM MINHAS ESTRADAS
TRAFEGAM SENTIDOS,
SENTIMENTOS PROFUSOS
E MARGINAIS,
ORGÍACOS OLHOS DE HOMEM ELO
HOMEM E VELHO
HOMEM E NÃO VAZIO
EU, VERBO.

MUTANTE

NADA QUE ACONTEÇA
APAGARÁ MEUS SONHOS,
NEM ME TIRARÁ O SONO.
SOMOS PRODUTO DE IDENTIFICAÇÕES,
ME IGUALO AOS SUBHUMANOS
SÃO ELES MENOS ANIMAIS.
ME IMAGINO SEMI-DEUS
NEM TÃO PODEROSO
NEM TÃO ERRANTE.
ME ADMITO MEIO NUVEM
ORA LIMPO E TRANQUILO
POR VEZES TEMPESTUOSO
E INACESSÍVEL.
ABSURDAMENTE ME SINTO JOVEM,
RENOVADO APÓS
AS DERROTAS
PRONTO PARA ERRAR
E NÃO REPETIR OS MESMOS
FRACASSOS.
NOVOS DIAS,
NOVAS IDÉIAS
E VONTADES
DE SER HERÓI
BANDIDO
MENINO
E VADIO.
UM MUTANTE NÔMADE
QUE SE PERDOA E SE PERMITE
VERBOS,
DE AÇÃO
POIS OS ESTADOS
JÁ NÃO SÃO IMPORTANTES
PORQUE ME TORNEI
FENÔMENO DA NATUREZA
E NÃO ESTUPIDEZ.

LUMINOSIDADE

NÃO SE ENXERTGA LUZ COM OLHOS.
COM ELES
SE VISLUMBRA ILUSÕES.
LUMINOSOS DIAS
SE ENXERGA COM SAUDADES,
O PEITO EXTRAVASA
A ALMA AGIGANTA
A PELE E ESPANTA,
E SE PÕE
A ARREPIAR-SE.
LUZES SÃO FLEUGMAS
CELEUMAS DE DESEJOS,
INCITANDO MEUS GESTOS
A TE GARIMPAR.
OUROS,
PEDRAS
E MINÉRIOS.
DESCOBERTAS EM CORPOS CANSADOS,
SONHANDO EM REPOUSAR.
LUMINOSIDADE É SINÔNIMO
DE SORTE,
COM ELA SE ABRE CAMINHOS,
SE ABRIGA EM NINHOS
E SE DEIXA ANCIOSAMENTE
PREENCHER-SE, NA BUSCA
DAS LUZES QUE COMPÕEM
MINHAS CONQUISTAS.

PRIMAVERA DOS OLHOS

ABRE SUA JANELA,
NA PRIMAVERA
OS PÁSSAROS
VEM CANTAR.
VEJA A BELEZA DOS DIAS
O INVERNO SE FOI
E COM ELE MINHAS LÁGRIMAS
GELADAS DE TRISTEZA.
A DELICIA ROSA CHÁ
DE SUA BOCA
ME DEIXA A PELE AVERMELHAR.
SINTO OS PECADOS
INSONES A ME ABUSAR
E SINTO FORÇAR O ZÍPER
QUE QUER SE QUEBRAR.
O QUE PRECEDES O PARAÍSO
É MELODIA
QUE EM MEUS OUVIDOS OUÇO RESSOAR
QUANDO MORRO UM POUQINHO,
É QUE O GOZO SE FEZ ANUNCIAR.
PORQUE É PRIMAVERA NO MEU CORPO
E NELE O SOLO QUER
MOLHAR.

INFELIZ, MAS AINDA VIVO

NÃO ADIANTA O AMOR,
EM MIM, O SOLO SE FEZ PÓSTUMO.
LOUCURAS DE AMOR JUVENIL
NÃO ME CABEM,
SOU UM EREMITA
QUE FITA OS BRAÇOS
A CHORAR.
DESCOBRIR-SE SÓ
É CAMINHAR À REVELIA,
ESTAR DE LUTO NA MINHA INTIMA
AUSÊNCIA,
É PERDER O TREM
QUE VAI PARAR NA
QUINTESSÊNCIA DA AGONIA.
NÃO ADIANTAM SONHOS
SÃO FRÁGEIS
INÓSPITOS
CREIO HIPÓCRITAS.
SONHAR
TORNOU-SE SUICIDIO,
QUE COM UMA ÚNICA ARMA,
ACABA COM MINHA QUERÊNCIA.
VIVER É CARO,
PODE ATÉ CUSTAR O DIAS
QUE LUTO PARA VER NASCER
MESMO QUE AINDA NESSA
APATIA
POR ISSO
MEU ATO É PURA COVARDIA
NA TENTATIVA DA SOBREVIVÊNCIA.

DIA DESSES EU CHORO

QUALQUER DIA EU FUJO
ENTRO EM CONFRONTO COM A VIDA
E DELA FAÇO MINHA PARTIDA.
QUALQUER DIA EU CHORO
ME PONHO A PERDER CORAGEM
E ME DEIXO EM CHOQUE.
NUM MOMENTO DE FÚRIA
LARGO TUDO E VOU MIMBORA
INVADO CASAS
TERRENOS
E ATÉ BACANAIS,
MAS EU FUJO.
RELEGO ÀS DISTÂNCIAS
A CULPA DAS MATANÇAS,
HOMENS QUE MORREM DE AMOR,
MERECEM ENTERROS DIGNOS,
NÃO SOU EU A DUVIDAR DAS VERDADES
CONTIDAS
EM CONTOS DE MENTIRAS.
SÓ SEI QUE DIA DESSES EU CHORO
INVENTO UM BLOCO
E CANTO MARCHINHAS PERDIDAS
NOS ANOS DE MINHA VIDA
QUE AINDA NEM VIVI.

BORBOLETAS

ADMIRO BORBOLETAS,
ME PARECEM MUITO FRÁGEIS
MAS CARREGAM EM SI
UMA FORÇA INENARRÁVEL,
CAPAZES DE COM ELAS
ELEVAR A BELEZA DOS DIAS
E OS DIAS MELHORAR.
BORBOLETAS SÃO COMO
MULHERES
MASCARAM AS DORES
E FAZEM DO QUE É FEIO
ALTAR,
DE AMOR
ALEGRIAS
E PRAZERES.
MULHERES SÃO BORBOLETAS
QUE NASCEM
MINÚSCULAS
MAS QUE QUANDO MUDAM,
TORNAM-SE DÁDIVAS,
FEITO MÁGICA TIRAM DOS SONHOS ARTE
E DA ARTE FAZEM PALCO
PARA NAS CENAS DE AMOR E DOR
CONSEGUIR BATER SUAS ASAS
E ESVOAÇAR
SENTIDOS
DEIXANDO HOMENS PERDIDOS
E PRETERIDOS AO SEU AMOR...

VOYEUR

QUERO SER VOYEUR,
E VER PRA CRER,
NAS DOCES LADAINHAS
QUE CADA UM EMANA
POR ENTRE AS CORTINAS,
AS DOSES DE PRAZER
QUE SE ENCONTRAM
NOS ATOS DE SE DAR.
QUERO SER E VER
UM QUE CHAMA
UM QUE GIRA
QUE GRITA
E SUSPIRA
MAS QUE QUER
ESTAR NA LIRA,
AS VOLTAS COM SEU PAR ENFIM.
QUERO LER E BEBER
GESTOS
MOMENTOS
INOPORTUNOS
DELICIAS E ARRUIOS.
QUERO TER E FAZER
SEXOS
SINFONIAS
SINTONIAS DE CORPOS
E ATÉ PLATÉIAS.
DAR PÉROLAS AOS POVOS
E AOS PORCOS LANÇAR
MIGALHAS
MAS AINDA SIM EU QUERO
SER VOYEUR DA VIDA,
E DA VIDA AB-SORVER
O ÚLTIMO DELÍRIO
E QUE COM ELA POSSA
EU ME PERDER.

NA CADÊNCIA DO MEU SAMBA

QUERO HOJE DANÇAR
SAMBAR UM BOLERO DE DOIS,
PULAR AO SOM DO MAIS
PROFUNDO JAZZ,
RIR E ME POR A SUAR
EM DIVERSOS RITMOS MARGINAIS.
A PAZ QUE INVADIU-ME O SER
NEM DE LONGE QUER BAGUNÇAS
DE QUINTAL,
QUER MESMO
É POR O BLOCO NA RUA
CORRER ATRÁS DOS TRIOS
QUE GUARDAM SUAS IMAGENS
INTRIGADAS.
HOJE QUERO SER UM CÉU,
ASSIM AZUL
VEZES NUBLADO,
MAS QUE QUANDO MOLHA A TERRA
É APENAS DE PRAZER
E NÃO DE DOR.
ME VEJO SAMBANDO
O SEU ENREDO
E SENDO SEUS PASSISTA
A TE ADMIRAR POR INTEIRO,
MAS NO MEU SAMBA
SÓ CABE UM
UM QUE SE MOSTRA
UM QUE SE ESCONDE
UM QUE QUER AMAR
E UM QUE JÁ NÃO AMA,
MAS AINDA SIM
CABE MAIS UM...

EM DIAS DE CHUVA, BRINCO CARNAVAIS

AMANHECEU...
MAIS UM DIA EM QUE A CAMINHADA
SE FEZ DIFICIL.
MEUS SORRISOS
JÁ ME PARECEM FALHOS,
OLHOS E BOCAS
A SE APAGAR.
LEVANTAR-SE TORNOU
DESALENTO,
E DORMIR
UMA TORTURA.
PASSEI DIAS ESPERANDO A CHUVA CHEGAR
E QUANDO CHEGOU
CORRI PROS QUINTAIS DE MINHAS
IMAGINAÇÕES
E PULEI CARNAVAIS
TALVEZ FORA DE ÉPOCA...
CADA PINGO UMA NOVA VIDA,
CADA SEGUNDO UM ALENTO
MOMENTOS INTERMINÁVEIS
QUE CALCULO QUERER PARA SEMPRE.
LAVADO ESTAVA
DE CORPO E NÃO ALMA,
CHUVA NÃO SE IMPORTA COM ALMAS
ELA QUER MESMO É ACALMAR
OS CORPOS CANSADOS
ESTANCADOS DE DOR,
E ASSIM ME PUS,
A ME LIVRAR DOS PESOS
E COM A CHUVA ESQUECER DOS MEDOS,
PRÁ QUANDO O SOL
CHEGAR
ME POR DE NOVO
A ESPERAR A CHUVA PASSAR...

O DIFÍCIL É TER QUE SER

CADA UM SABE DE SUAS DORES
AMORES
DISSABORES.
CADA UM CULTIVA SEUS MÉRITOS
FRACASSOS
E SOLUÇOS.
CADA QUAL ENTENDE SEUS MEDOS,
SUAS FALHAS
E CONDUTAS.
CADA SER EM SI
É UMA DÁDIVA
UMA FESTA
UM FUNERAL.
CADA HOMEM
PALAVRA
CADA HOMEM
INEXATA
CADA HOMEM
FRACASSOS
CADA SER VITÓRIAS.
CADA UM MEDE SUAS AÇÕES
E ESQUECE DE MEDIR
OS ERROS.
CADA DEUS É HOMEM
CADA HOMEM PEQUENO
CADA QUAL
COM SEU AMOR,
ESPERANDO
O CADA QUAL DO OUTRO
SE HAVER COM
SEUS DESATINOS.

CAMINHOS

OS MEUS CAMINHOS SÃO TORTOS
MUDADOS COM O CLIMA DOS VENTOS.
CAMINHOS TORTURADOS,
SEM ACHADOS NEM PERDIDOS,
EM VAZIOS NÃO SE PERDE NADA,
NEM NADA SE ACHA.
CAMINHOS QUEBRADIÇOS,
CHEIOS DE AREIA MOVEDIÇA
QUE ME LEVA AOS FUNDOS
DOS MEUS PÉS CANSADOS.
CAMINHOS SALGADOS,
ÁGUA DOCE DO MAR EGEU,
EM ÉPOCA DE SONHOS.
CAMINHOS TRILHADOS
SEM FORÇA DE VOLTAS,
SEM NECESSIDADE DE IDAS.
CAMINHOS OPOSTOS
QUE COM ELES
ME DEIXO LEVAR AOS MEANDROS
DOS ANSEIOS
DORIDOS.

SÍNTESES DE HOMEM

HOJE ME VI MUDADO,
CONFESSO QUE MUDEI DE ROSTO
ENXERGUEI TANTOS EM MIM,
CAPAZ DE LUTAR
CAPAZ DE DIZER COISAS INDIZÍVEIS,
COISAS AINDA SEM VERDADE.
HOJE ME VI ALTERADO,
GESTOS E SONHOS ANTES IRREAIS
AGORA FAZEM PARTE DE MIM,
CATALIZANDO MINHAS DOIDEIRAS
E ME FAZENDO UM NOVO EU.
HOJE ME VI SINTÉTICO,
UM HOMEM EM CONTRADIÇÃO,
ASSINANDO SUAS AÇÕES
SEM MEDO DE SER.
E ASSIM SENDO
ME TORNANDO UMA SÍNTESE NOTÓRIA
DE MIM MESMO.
MAS SEM MEDO DOS RESULTADOS,
QUE POR ACASO
AINDA NÃO SE TORNARAM
CLAROS A MIM

CASTOS ELOS

Vivo a espera do seu calor,
sonhando com suas indecências
imaginando cada gesto teu
guardado em mim feito marca
cicatriz ainda festejada.
Os minutos passam
e o tempo muda
é chuva chegando.
Uso meu guarda-chuva,
para guardá-la
onde contraditoriamente
eu deveria esquecê-la.
E vivo a te esperar
mesmo que nossos castos elos
estejam perdidos,
pois
o prazer em te esperar
não é sua chegada
mas a idéia prazerosa de talvez
não te encontrar
e comigo me amar.